Mais de 150 mil pessoas participaram nesta segunda-feira (25) de uma homenagem às vítimas do duplo ataque contra a sede do governo na capital da Noruega e contra um acampamento na Ilha de Utoya, na sexta-feira (22) cometidos por um terrorista norueguês.
Em uma manifestação silenciosa, cerca de 150 mil cidadãos marcharam com flores e tochas pelo centro de Oslo até a Prefeitura.O primeiro-ministro norueguês Jens Stoltenberg pediu aos noruegueses que mantenham seu caráter tolerante e não permitam que o "mal se apodere de todo um povo". A resposta aos atentados deve ser dada com "mais abertura, mais democracia", acrescentou.
A passeata partiu dos arredores do tribunal onde nesta segunda-feira o autor confesso do duplo atentado, Anders Behring Breivik, compareceu pela primeira vez e que fica localizado a algumas centenas de metros do complexo governamental onde foi detonado o potente carro-bomba que matou oito pessoas.
A concentração começou depois das 12 horas locais (8 horas em Brasília), quando Stoltenberg, declarou na Universidade de Oslo um minuto de silêncio em todo o país em memória dos mortos, que, depois de uma revisão da polícia norueguesa, foram corrigidos de 93 para 76.
Segundo a imprensa local, a mobilização foi sem precedentes na história do país. Na capital norueguesa, a maioria dos participantes levava rosas, respondendo a um chamado realizado em várias outras cidades do país, segundo imagens da TV norueguesa.
Além da marcha das flores – a qual se segue uma vigília –, concentrações também ocorreram em outras cidades de todo o país.
As ruas de Oslo foram fechadas para circulação para serem palco da manifestação, cujo objetivo foi repudiar os motivos racistas que levaram Breivik a disparar e matar as pessoas.
A mobilização ocorreu no mesmo dia em que o juiz Kim Heger presidiu a primeira audiência de Breivik, que foi realizada a portas fechadas por 35 minutos.
Após a audiência, o juiz afirmou que a polícia norueguesa investigará a afirmação feita pelo norueguês de 32 anos de que há mais duas células militantes de sua rede terrorista.
Em coletiva posterior à audiência, autoridades policiais disseram que o neonazista pareceu se contradizer com essa afirmação, já que em depoimento após ser preso afirmou que teria agido sozinho no duplo atentado.
Na audiência, Breivik afirmou que não era culpado pelo crime porque queria "salvar" a Noruega e a Europa Ocidental do marxismo cultural, expressão que usou em manifesto escrito por ele e postado na internet horas antes dos ataques. De acordo com o juiz, o acusado disse que o massacre "foi necessário" para evitar que a Europa seja "tomada por muçulmanos".
O norueguês também declarou que seu principal objetivo era prejudicar o Partido Trabalhista, que favorece a imigração, segundo ele.
Isolamento total
O juiz também afirmou que Breivik considera a legenda governista culpada da "importação em massa" de muçulmanos. "O Partido Trabalhista tinha de pagar um preço por sua traição; muçulmanos estavam aqui para colonizar o país", disse Breivik, citado pelo magistrado.
"A operação não tinha o objetivo de causar o maior número de mortes possível, mas emitir um forte sinal que não pudesse ser confundido de que, enquanto o Partido Trabalhista continuar levando adiante suas mentiras ideológicas e desconstruindo a cultura norueguesa e importando muçulmanos em massa, terá de assumir a responsabilidade por sua traição", disse o terrorista, de acordo com o juiz.
O juiz indiciou o acusado por terrorismo, anunciando que o criminoso ficará preso por oito semanas, das quais quatro em total isolamento. De acordo com o magistrado, a promotoria pediu essa medida pelo risco de perda de provas e pela "extensão e característica" do caso.
Assim, o terrorista ficará em completo isolamento até 22 de agosto. Segundo o juiz, a data da principal audiência sobre o caso será definida depois que a polícia concluir a investigação.
De acordo com a lei norueguesa, Breivik pode ser sentenciado a um máximo de 21 anos de prisão. A sentença pode ser estendida se o prisioneiro for considerado uma ameaça à segurança pública.
Choque e preconceito
Segundo Priscila Pires, artista plástica brasileira que vive no país desde 2008, a perplexidade tomou conta dos noruegueses, que não estão acostumados a este tipo de ocorrência. “Eles são um povo calmo, tranquilo. Então ficaram todos chocados, porque foi algo surreal”, afirma.
A artista plástica comenta que, três dias após a tragédia, os noruegueses ainda não conseguiram assimilar o fato. “Eles não sabem lidar com isso, ainda mais porque foi um norueguês o autor do massacre”.
A brasileira afirma que, embora o norueguês não seja um povo violento, há um preconceito velado contra os imigrantes. “Há discriminação, sim. E quando houve o atentado, muitos pensaram que era um ataque muçulmano, mas não era. Agora, a Noruega precisa refletir sobre o que eles têm feito contra os imigrantes”.
Com agências
Fonte: Vermelho
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