Esquerda Digital

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ministério aponta que 251 empresas adotam trabalho similar a escravo no país


Empregador que está na lista perde financiamentos com recursos públicos

O Ministério do Trabalho e Emprego atualizou nesta sexta-feira (29) o Cadastro de Empregadores flagrados submetendo trabalhadores a condição análoga à de escravo. O documento passa a listar 251 infratores, entre pessoas físicas e jurídicas. Nessa atualização foram incluídos 48 empregadores e excluídos outros cinco, que preencheram os requisitos necessários para a exclusão.

Segundo o chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo do ministério, Guilherme Moreira, as principais causas da manutenção do nome no cadastro são a não quitação das multas, a reincidência na prática do ilícito e ações em trâmite no Poder Judiciário.

No período que estão com o nome no cadastro, os empregadores não recebem financiamentos com recursos públicos. Além disso, o setor privado tem implementado, por meio do Pacto Nacional, medidas restritivas de relacionamento comercial com empregadores que constam da lista, tornando-o um instrumento utilizado pelo governo federal para erradicação do trabalho escravo no país.

Fonte: R7

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mulheres peruanas esperam reparação do Estado por esterilização forçada


Por Bruna Rosa

Com a posse de Ollanta Humala, as mulheres peruanas cobram do Estado a reparação por crimes sexuais e esterilização forçada, práticas comuns durante a década de 80 e 90.

Lima (Peru) - No segundo turno das eleições peruanas, quando se enfrentavam Ollanta Humala e Keiko Fujimori, o movimento feminista peruano realizou protestos quase que diários contra o voto em Keiko.

A eleição da filha de Alberto Fujimori, presidente do Peru durante a década de 90, representava não só o retorno o retorno do conservadorismo extremo no país como a garantia da impunidade de um governo que promoveu a esterilização forçada de milhares de peruanas pobres com o “objetivo” de eliminar a pobreza no país.

Segundo dados do Ministério da Saúde do Peru, 300 mil esterilizações foram realizadas entre os anos de 1996 e 1997 no Programa Nacional de Esterilização. Durante todo estes anos, o Ministério Público do Peru adiou as investigações e recentemente arquivou a denuncia de mais de duas mil mulheres.

Como a justiça nacional não cuidou do caso, a Corte Interamericana está avaliando as denúncias de esterilização forçada e agora, com a eleição de Ollanta Humala, os movimentos feministas esperam que o assunto também seja parte do novo governo.

Caso condenado, pela Corte Interamericana, o governo peruano será obrigado a assumir a indenização das milhares de mulheres esterilizadas contra sua vontade.

Porém, para a organização social Demus, o novo governo deve ir além da reparação dos crimes ligados à esterilização, ampliando o seu entendimento. Para a organização, entre 1980 a 2000 a guerra interna que assolou o país fez entre suas principais vítimas as mulheres, que sofreram uma série de crimes, entre eles a violência sexual. “O Estado, atualmente, não especifica as vítimas de violência sexual, deixando de lado as prejudicadas por esse tipo de violência”, denuncia a socióloga do movimento Yessenia Casani Castillo.


Fonte: Rede Brasil Atual

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Escândalo de Campinas: empresário é filiado ao PSDB

O PSDB com os laranjas PPS e DEM, sempre tão rápido no pedido de CPI, dessa vez está em silêncio!

Um dos sete empresários detidos por supostas fraudes em licitações públicas em Campinas, Luiz Arnaldo Pereira Mayer, é filiado ao PSDB da capital. Ele é dono da Saenge Engenharia, empreiteira do setor de saneamento investigada no escândalo campineiro e que firmou R$ 467,7 milhões em contratos, diretos ou por meio de consórcios, com a Sabesp no governo dos tucanos José Serra e Alberto Goldman (2007-2010).

Mayer foi preso temporariamente em 20 de maio em operação conjunta da polícia e do Ministério Público (MP), acusado de integrar um esquema que fraudava licitações da Sanasa, companhia de saneamento de Campinas, na gestão do prefeito Dr. Hélio (PDT). Ele permaneceu detido por cinco dias. Sócio majoritário da Saenge, com cota de R$ 17,5 milhões, ele foi flagrado em escutas telefônicas nas quais mostra-se preocupado com os rumos de seus negócios na Sabesp....Continue lendo clicando no mais informações


Em uma das conversas, seu interlocutor (não identificado) afirma que o atual secretário estadual de Desenvolvimento Metropolitano, Edson Aparecido, o ex-presidente do diretório municipal do PSDB José Henrique Reis Lobo e o deputado federal tucano Ricardo Trípoli estariam “intercedendo” em negócios de outro empresário envolvido no escândalo de Campinas.

Contatos políticos
No relatório fruto das investigações, os promotores apontam que o “conteúdo dos diálogos deixa muito evidente que as questões referentes às suas (de Mayer) contratações públicas estão intimamente ligadas a contatos e relacionamentos políticos” e que “os indicativos de fraudes e corrupção são claros, sendo necessário destacar que não é a primeira vez, no presente relatório, onde há menção de irregularidades em contratos públicos da Sabesp”.

Mas uma relação de filiados do PSDB paulistano recadastrados em 2009, disponível no site do partido, mostra que o próprio Mayer é um filiado tucano.Segundo um correligionário da capital, o empreiteiro integra o quadro partidário da legenda desde a fundação, em 1988, e foi um dos fundadores do diretório zonal no bairro do Butantã, zona oeste da cidade.

Cinco anos antes, em 1983, Mayer criou a Saenge Engenharia que, de 1995 até hoje, já fechou R$ 998,6 milhões em contratos com a Sabesp, diretamente ou por meio de consórcios com outras empresas. Uma delas é a Gerentec Engenharia, que tem como sócio o engenheiro Umberto Semeghini. Primo do secretário estadual de Gestão, Júlio Semeghini, ele foi diretor da Sabesp de 2007 e janeiro deste ano, conforme revelou o JT na semana passada. Em 1999, Gerentec e Saenge fecharam contrato de R$ 9 milhões com a Sabesp.

Investigados
Luiz Arnaldo Pereira Mayer não é o único empreiteiro envolvido nas supostas fraudes em Campinas que tem contratos com a Sabesp. No último dia 11, oJornal da Tarde revelou o teor de escutas do MP que mostram o empresário Gregório Cerveira preocupado com o fato de o escândalo campineiro poder “contaminar” seu negócios com a Sabesp.

Cerveira tem participação na Hydrax, na Camp Saneamento e em três consórcios que, juntos, possuem cerca de R$ 58 milhões em negócios com a estatal paulista. Para os promotores, essa preocupação também pode ser uma “indício de ilicitudes” em contratos com a Sabesp.

Manisfetação na Noruega por vítimas do massacre

Mais de 150 mil pessoas participaram nesta segunda-feira (25) de uma homenagem às vítimas do duplo ataque contra a sede do governo na capital da Noruega e contra um acampamento na Ilha de Utoya, na sexta-feira (22) cometidos por um terrorista norueguês.

Em uma manifestação silenciosa, cerca de 150 mil cidadãos marcharam com flores e tochas pelo centro de Oslo até a Prefeitura.

O primeiro-ministro norueguês Jens Stoltenberg pediu aos noruegueses que mantenham seu caráter tolerante e não permitam que o "mal se apodere de todo um povo". A resposta aos atentados deve ser dada com "mais abertura, mais democracia", acrescentou.

A passeata partiu dos arredores do tribunal onde nesta segunda-feira o autor confesso do duplo atentado, Anders Behring Breivik, compareceu pela primeira vez e que fica localizado a algumas centenas de metros do complexo governamental onde foi detonado o potente carro-bomba que matou oito pessoas.

A concentração começou depois das 12 horas locais (8 horas em Brasília), quando Stoltenberg, declarou na Universidade de Oslo um minuto de silêncio em todo o país em memória dos mortos, que, depois de uma revisão da polícia norueguesa, foram corrigidos de 93 para 76.

Segundo a imprensa local, a mobilização foi sem precedentes na história do país. Na capital norueguesa, a maioria dos participantes levava rosas, respondendo a um chamado realizado em várias outras cidades do país, segundo imagens da TV norueguesa.

Além da marcha das flores – a qual se segue uma vigília –, concentrações também ocorreram em outras cidades de todo o país.

As ruas de Oslo foram fechadas para circulação para serem palco da manifestação, cujo objetivo foi repudiar os motivos racistas que levaram Breivik a disparar e matar as pessoas.

A mobilização ocorreu no mesmo dia em que o juiz Kim Heger presidiu a primeira audiência de Breivik, que foi realizada a portas fechadas por 35 minutos.

Após a audiência, o juiz afirmou que a polícia norueguesa investigará a afirmação feita pelo norueguês de 32 anos de que há mais duas células militantes de sua rede terrorista.

Em coletiva posterior à audiência, autoridades policiais disseram que o neonazista pareceu se contradizer com essa afirmação, já que em depoimento após ser preso afirmou que teria agido sozinho no duplo atentado.

Na audiência, Breivik afirmou que não era culpado pelo crime porque queria "salvar" a Noruega e a Europa Ocidental do marxismo cultural, expressão que usou em manifesto escrito por ele e postado na internet horas antes dos ataques. De acordo com o juiz, o acusado disse que o massacre "foi necessário" para evitar que a Europa seja "tomada por muçulmanos".

O norueguês também declarou que seu principal objetivo era prejudicar o Partido Trabalhista, que favorece a imigração, segundo ele.

Isolamento total

O juiz também afirmou que Breivik considera a legenda governista culpada da "importação em massa" de muçulmanos. "O Partido Trabalhista tinha de pagar um preço por sua traição; muçulmanos estavam aqui para colonizar o país", disse Breivik, citado pelo magistrado.

"A operação não tinha o objetivo de causar o maior número de mortes possível, mas emitir um forte sinal que não pudesse ser confundido de que, enquanto o Partido Trabalhista continuar levando adiante suas mentiras ideológicas e desconstruindo a cultura norueguesa e importando muçulmanos em massa, terá de assumir a responsabilidade por sua traição", disse o terrorista, de acordo com o juiz.

O juiz indiciou o acusado por terrorismo, anunciando que o criminoso ficará preso por oito semanas, das quais quatro em total isolamento. De acordo com o magistrado, a promotoria pediu essa medida pelo risco de perda de provas e pela "extensão e característica" do caso.

Assim, o terrorista ficará em completo isolamento até 22 de agosto. Segundo o juiz, a data da principal audiência sobre o caso será definida depois que a polícia concluir a investigação.

De acordo com a lei norueguesa, Breivik pode ser sentenciado a um máximo de 21 anos de prisão. A sentença pode ser estendida se o prisioneiro for considerado uma ameaça à segurança pública.

Choque e preconceito

Segundo Priscila Pires, artista plástica brasileira que vive no país desde 2008, a perplexidade tomou conta dos noruegueses, que não estão acostumados a este tipo de ocorrência. “Eles são um povo calmo, tranquilo. Então ficaram todos chocados, porque foi algo surreal”, afirma.

A artista plástica comenta que, três dias após a tragédia, os noruegueses ainda não conseguiram assimilar o fato. “Eles não sabem lidar com isso, ainda mais porque foi um norueguês o autor do massacre”.

A brasileira afirma que, embora o norueguês não seja um povo violento, há um preconceito velado contra os imigrantes. “Há discriminação, sim. E quando houve o atentado, muitos pensaram que era um ataque muçulmano, mas não era. Agora, a Noruega precisa refletir sobre o que eles têm feito contra os imigrantes”.

Com agências
Fonte: Vermelho

Quanto mais idiota melhor??


(...) Absorvendo, degradando-se, e se deixando levar pela idiotice americana???

Elaine Berti

O público alvo da TV paga: ricos, idiotas e débeis mentais

Férias no cabo

“O catastrofismo é tanto, não só na ficção como no documentário, que os americanos devem achar uma merda este mundo no qual eles mandam”

Férias na tevê a cabo virou show de horror para débeis metais. Literalmente. Só tem filme de humor ou terror adolescente de quinta categoria e todos os harrys potters possíveis, reprisados pela 125ª vez. E com destaque!!!! Como se fosse um privilégio INIMAGINÁVEL o idiota do assinante poder assistir este lixo again and again and again. Ad nauseummmmmmmm.

Será que acabaram os adultos do planeta? Ora habitado única e exclusivamente por débeis mentais de 8 a 80 anos? É isso que imaginam (ou têm absoluta certeza) os magnatas das telecomunicações & associados provedores da América Latina via Satélite?

E tome “american way of life” – que nunca foi nem será nosso estilo – por todos os motivos óbvios, salvo para os ricos, idiotas e débeis mentais ou só os muito ricos, os muito idiotas e respectivos filhotes muitíssimo débeis mentais. Dentro destas categorias – ricos, idiotas e débeis mentais – eles são legião, ergo, suas combinações serem infinitas.

Aí acrescente-se a sessão da tarde que só joga basebol, hóquei no gelo, golfe, futebol americano – e todo o folclore em torno desses esportes alienígenas para nós, brasileiros (salvo ricos, idiotas e débeis mentais, é claro). Ah, sim, e as “team-leaders”, of course, esta uma categoria à parte, muito em moda entre nossas adolescentes ricas ou idiotas ou débeis mentais, ou os três.

E tudo por quê? Porque os americanos magnatas das telecomunicações resolveram, quanto às suas targets para o cone sul, “que não existem adultos na América Latina”. Não existem seres racionais abaixo da linha do Equador? Que humor/terror adolescente com efeitos especiais são a NOSSA PRAIA! Que hóquei no gelo, golfe, basebol e futebol americano – também com efeitos especiais, folclore específico, sem contar as “team-leaders” – são A PROGRAMAÇÃO IDEAL DE FÉRIAS para as crianças, adolescentes, jovens, pais, tios, primos, avós brasileiros/peruanos/argentinos/chilenos/ venezuelanos/bolivianos/equatorianos, e por aí vai”.

Bom. Pode ser a PRAIA DELES (unanimemente ricos, idiotas e débeis mentais), a nossa é que não é.

Quer dizer, de toda essa “gentinha, essas trezentas e tantas milhões de criaturas, este Third World sem remédio nem conserto, aliás, onde já se viu NASCER já falando português ou espanhol? A incivilização vem do berço (que berço? Essa gente nem sabe o que é isso! God damn it!). Nem parecem pertencer ao mesmo continente – a América – não têm nem estatura nem cabeça para incorporar nosso estilo. Sem contar a cor da pele, resultado desta horrenda miscigenação! Verdadeiro Third Horror! A cura pra isso? Extermínio em massa, of course. E estamos conversados."

Voltando à tevê e deixando o extermínio de lado: se salvam os desenhos animados, aliás ótimos, tipo A Era do Gelo 3 – cujo diretor é um brasileiro – Madagascar, Shrek 1,2,3,4, etc. Mas, de qualquer forma, prevalece o conteúdo alienado – avatares, magia, terror, efeitos especiais, ficção científica, fantasias calhordas, fadas, bruxos, castelos “encantados” com regras dos colégios ingleses, vida depois da morte, paranormalidade, espiritismo, vampirismo, monstrismo, satanismo, angelismo – QUALQUER COISA, desde que se fuja completamente da realidade.

Hollywood só existe a anos luz da realidade: ou existe no passado (inglês ou norte-americano, entenda-se, “uma vez que não existem outros”, tipo O Patriota, A Outra, A Duquesa, A Rainha) ou no futuro (Avatar, 2012, O dia depois de amanhã, Extinção) ou no fantástico (Harry Potter, A Saga do Anel, As Crônicas de Nárnia).

E quando falam do aqui-agora, dá-lhe hóquei no gelo ou basebol ou futebol americano ou golfe ou humor e sexo grosseiro e aborrecente do Alabama ou Ohio ou Massachussets ou Kansas ou Colorado ou Texas ou LA ou NYC. É foda.

Romance “clássico”? Experimente Amor sem escalas com George Clooney cuja festejada ocupação é demitir numa boa, “sem escalas”, pessoas de norte a sul do país. De abaixar o pau até do capeta.

Pintando em todos há décadas: soltar gazes e vomitar. Dum realismo nauseante.

O catastrofismo é tanto, vide Discovery e National Geographic, não só na ficção como no documentário, que os americanos devem achar uma merda este mundo no qual eles mandam.

Divirtam-se!

Por Márcia Denser

Reacionários ameaçam a segurança da humanidade

O fascismo " templário" e " caçador de marxistas"

As razões dos atentados terroristas que vitimaram mais de 90 pessoas na Noruega na última sexta-feira (22) ainda não estão totalmente esclarecidas, mas nos escritos e declarações do autor confesso do crime revelados no domingo (24), há claros indicadores de uma perigosa ameaça às liberdades democráticas e à segurança da humanidade: o surgimento de um novo tipo de fascismo, cujas origens estão no seio da própria sociedade capitalista ocidental.

Logo após o desastroso episódio, chegou-se a insinuar que os atentados teriam sido cometidos pela Al-Qaeda ou, no caso de uma iniciativa isolada, por um “terrorista-fundamentalista islâmico”.

O massacre foi circundado de simbolismo. Primeiramente, foram detonados explosivos no bairro em que está a sede do governo de centro-esquerda norueguês, em Oslo. Em seguida, foi perpetrado um massacre em um acampamento de verão da juventude trabalhista.

O documento de 1500 páginas, de autoria do terrorista, intitulado “Manifesto pela Independência Europeia – 2083”, traz elementos que não devem ser substimados sobre o seu perfil político-ideológico: “Serei etiquetado como o maior monstro nazista desde a Segunda Guerra Mundial”. O bandido também qualifica-se como “caçador de marxistas”.

Apresenta-se ainda como “comendador dos cavaleiros justiceiros”, diz que é um “fundamentalista cristão”, faz referências à Ordem dos Templários, critica a “islamização” da Europa, o “avanço do multiculturalismo” e defende a necessidade de emprender uma “Cruzada Moderna”. Assume-se como integrante de um “Movimento de Resistência Nacional”.

Nas suas notas há também uma cruel ironia. Ao referir-se à facilidade com que adquiriu os materiais usados na preparação dos artefatos explosivos, disse: “tudo isso é fácil de comprar, a menos que alguém se chame Abdulá Rachid Mohamed…”.

O documento proclama o objetivo realizar “uma guerra preventiva contra os regimes culturalmente marxistas/multiculturais da Europa” para “rechaçar, vencer ou debilitar a invasão/colonização islâmica em curso, a fim de ter uma vantagem estratégica em uma guerra inevitável antes que a ameaça se materialize”. E um vaticínio: “O tempo do diálogo já passou (...) A hora da resistência armada soou”.

O sinal de alarme soa mais forte quando se sabe que além do ideário neofascista do autor dos atentados, vieram à tona também informações de que, nos últimos dias, muitos internautas europeus assumiram-se como pertencentes à mesma facção de extrema-direita. O terrorista de Oslo não é apenas membro do grupo extremista da Noruega, mas também faz parte de várias organizações de extrema-direita pan-europeias.

A direitização e fascistização da Europa não é fato novo e invade também a área política-institucional.

Na própria Noruega, como espécie de reação à vigência do governo de centro-esquerda, é crescente o apoio a ideias nacionalistas e xenófobas. O chamado Partido Progressista, de extrema-direita, se tornou a segunda força política do país, ao conquistar 23% dos votos nas eleições gerais.

De maneira intermitente, eleições nacionais nos países da Europa mostram o desenvolvimento das forças de extrema-direita, tendência que se observou também nas últimas eleições ao Parlamento Europeu.

Na Holanda, o chamado Partido da Liberdade do líder direitista Geert Wilders obteve 17% dos votos, que lhe valeram a eleição de quatro eurodeputados. Na Áustria, o Partido da Liberdade foi o quarto mais votado a nível nacional, ao conseguir 13,8% dos votos. No Reino Unido, o Partido nacionalista xenófobo British National Party conquistou o seu primeiro assento no Parlamento europeu, após uma votação que lhe rendeu perto de 8% dos sufrágios. Mais a Leste, na Hungria, o partido nacionalista e populista elegeu três deputados. Na Romênia, os ultranacionalistas liderados por Vadim Tudor, do Partido da Grande Romênia, obtiveram 7,2% dos votos e elegeram dois deputados na Europa. Destaca-se ainda o avanço da extrema-direita na Finlândia, com a formação do partido autodenominado “Verdadeiros Finlandeses”, que alcançou perto de 10% dos votos e 13 eurodeputados. O crescimento dos pequenos partidos mais radicais de direita verificou-se também na Espanha, Bulgária ou Grécia.

As tendências neofascistas no continente europeu radicam na crise econômica. Incapazes de encontrar soluções eficazes para os inarredáveis problemas do capitalismo, os setores mais retrógrados da burguesia atribuem ao aumento de imigrantes o agravamento da crise, fenômeno que pretendem combater com falsas soluções xenófobas que necessariamente resvalam para a adoção de medidas antidemocráticas e, in extremis, o terrorismo, como agora na Noruega.

Tudo isso demonstra a medida em que o fanatismo reacionário infectou o pensamento dominante.

Os governos conservadores e direitistas e a própria propaganda midiática em geral têm profundas responsabilidades pelo surgimento deste fenómeno. Esses governos direitistas atribuem a responsabilidade da recessão econômica e da instabilidade social aos imigrantes e começaram a adotar atitudes mais rígidas contra eles, inclusive muçulmanos. Mais e mais europeus estão passando a considerar que os imigrantes estão invadindo sua cultura e roubando seus empregos.

Na França, o governo conservador de Nicolas Sarkozy realiza campanhas para defender a “identidade da França”, numa demonstração de intolerância com as demais culturas nacionais e com o multiculturalismo característico da República francesa.

Nos Estados Unidos, o ex-presidente George W. Bush dizia que “se comunicava com Deus” e desencadeou as guerras preventivas que impuseram o terrorismo de Estado global ao mundo.

Estes fatos não são isolados e devem chamar a atenção das forças democráticas, progressistas e de esquerda em todo o mundo. O que está em gestação é um fenômeno grave – um generalizado ataque às liberdades, direitos e conquistas democráticas, que só será combatido eficazmente com a ampliação e o aprofundamento da luta popular.

Fonte: Vermelho

Também publicado em : Um pouco de tudo. Tudo de um pouco

Confirmado o 1º Encontro internacional de blogueiros.

Está confirmado o 1º Encontro Internacional de Blogueiros, de 28 a 30 de outubro, em Foz do Iguaçu.
O evento vai discutir “O papel da globosfera na construção da democracia”.
São esperados internautas dos Estados Unidos, Europa, Ásia, África e América Latina.
Dentre os convidados internacionais estão o francês Ignácio Ramonet, criador do jornal Le Monde Diplomatique; o espanhol Manuel Castells, autor de diversos livros sobre a cultural digital; a norte-americana Amy Gooldmann, responsável pela rede “Democracy Now”; o espanhol Pascual Serrano, blogueiro e fundador do sítio Rebelion; o blogueiro cubano Iroel Sanches; o coordenador da campanha de Ollanta Humala (Peru), Elvis Moris; o argentino Pedro Bringler, blogueiro e diretor da TV Pública da Argentina.
Há grande expectativa mundial sobre o Encontro Internacional de Blogueiros, uma vez que um dos principais convidados internacionais é o Julian Assange, criador do Wikileaks.
Wikileaks é uma organização transnacional sem fins lucrativos que publica em seu site posts de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis. Pela importância e repercussão que teve no mundo nos últimos meses, o Wikileaks e a forma como os governos e empresas de comunicação tratam as informações, devem ser alguns dos principais temas a serem debatidos no Encontro Internacional de Blogueiros.
Sobre o papel da “Globosfera no Brasil” deverão dividir mesa de debate: Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada); Luís Nassif (Blog do Nassif); Hidegard Angel (blogueira carioca); Esmael Morais (blogueiro paranaense).
Nesta semana, o blog oficial do 1º Encontro Internacional de Blogueiros deverá entrar no ar com a programação e dicas de hospedagens em Foz do Iguaçu.

sábado, 23 de julho de 2011

‘Exame da OAB é inconstitucional’

Brasília – O subprocurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) parecer em que considera inconstitucional o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por violar o direito ao trabalho e à liberdade de profissão, garantido pela Constituição Federal.

“Não contém na Constituição mandamento explícito ou implícito de que uma profissão liberal, exercida em caráter privado, por mais relevante que seja, esteja sujeita a regime de ingresso por qualquer espécie de concurso público”, argumenta Janot no parecer divulgado ontem (21).

O STF deve julgar em breve um recurso de um bacharel de Direito que contesta a decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que julgou legítima a aplicação do Exame de Ordem pela OAB. O relator do caso no STF é o ministro Marco Aurélio Melo.

Luana Lourenço*

O parecer de Janot será anexado ao processo, mas a opinião oficial da Procuradoria-Geral da República deverá ser defendida em plenário pelo procurador-geral, Roberto Gurgel, que foi reconduzido ao cargo pela presidenta Dilma Rousseff, mas aguarda aprovação do Senado para voltar ao comando do Ministério Público Federal.

No parecer, o subprocurador diz que o exame da OAB “nada mais é que teste de qualificação” e que funciona como um instrumento de reserva de mercado. A exigência da prova para o exercício da advocacia também desqualifica o diploma universitário de Direito, na avaliação de Janot. “Negar tal efeito ao diploma de bacharel em Direito é afirmar que o Poder Público não se desincumbiu do dever de assegurar a todos a oferta dos meios necessários à formação profissional.”

Em nota, o Movimento Nacional dos Bacharéis de Direito (MNDB), contrário à exigência da OAB, elogiou o parecer de Janot e diz que a manifestação do subprocurador corrobora decisões judiciais recentes que consideram o exame inconstitucional.

“O parecer é um novo marco histórico na luta de nossa entidade contra esse exame de ordem, cada dia mais publica e juridicamente ilegal, juntando-se às decisões emanadas da Justiça Federal no Rio Grande do Sul, em Goiás, no Rio de Janeiro e em Mato Grosso e à decisão do desembargador Vladimir Carvalho, do Tribunal Regional Federal da 5ª Região”.

*Matéria publicada originalmente em Agência Brasil

Fonte: Carta Capital

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Globo recebe R$ 30 milhões de governo e prefeitura do Rio para organizar festa da Fifa.

Saiu no UOL a seguinte manchete:

Globo recebe R$ 30 milhões de governo e prefeitura do Rio para organizar festa da Fifa.
A matéria de Vinícius Segalla afirma o seguinte:

A Geo Eventos, empresa de eventos das Organizações Globo e do Grupo RBS, vai receber R$ 30 milhões do governo estadual e da prefeitura do Rio de Janeiro para organizar o evento em que será realizado o sorteio preliminar das eliminatórias da Copa do Mundo de 2014, o chamado "Preliminary Draw".

A empresa foi contratada em regime de exclusividade pelo Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 para produzir e captar patrocínios para a cerimônia. O sorteio acontecerá no dia 30 de julho, às 15h, na Marina da Glória (zona Sul do Rio), e será transmitido ao vivo para cerca de 200 países.

Segundo a matéria apenas dois patrocinadores se interessaram pelo evento: a prefeitura e o governo do estado do Rio de Janeiro. Cada patrocinador dará 15 milhões de reais para a Globo.

A hipocrisia da Globo

Na semana passada o jornal O Globo dedicou-se exclusivamente a atacar o 52º. Congresso da UNE realizado em Goiânia com a presença de cerca de 10 mil estudantes. Segundo O Globo, o fato do congresso da UNE ter recebido dinheiro estatal faz a entidade representativa dos estudantes ser “chapa-branca”.

Entretanto, agora sai a notícia de que a Globo receberá R$ 30 milhões dos cofres públicos para realizar uma festa. Até onde se sabe, não há registro na história deste país de uma festa que tenha custado tanto aos cofres públicos.

Para O Globo, dinheiro público não deve servir para financiar processos democráticos e pedagógicos como o Congresso da UNE. Para O Globo, o dinheiro público deve servir apenas para financiar festas e engordar os cofres das empresas privadas de comunicação.

Ou será que a Globo se considera “chapa-branca” por receber dinheiro da prefeitura e do governo do estado do Rio de Janeiro?

Fonte: Fatos Sociais

" Kassabidão"

kassab paga salário dos trabalhadores atrasado, mas ele recebe

Com um “valor expressivo” retido em função de uma dívida e sem conseguir pagar de uma vez todo o funcionalismo municipal, a prefeitura de Martinópolis, em São Paulo, resolveu pagar conforme um “alfabeto invertido”, ou seja, de Z a A. O caráter duvidoso do critério ganhou força por um detalhe: o prefeito da cidade se chama Waldemir Caetano.

Não bastasse a medida, que fez com que o prefeito fosse um dos primeiros a receber seu vencimento, um decreto do Executivo, motivado pela repercussão negativa da decisão, proíbe que os servidores públicos tratem de “assuntos particulares de qualquer natureza, inclusive salariais” durante o expediente. Até o dia 20, os 216 funcionários municipais presenteados com os nomes mais próximos ao início do alfabeto ainda esperavam pagamento. De acordo com a assessoria da prefeitura, alguns deles foram pagos nesse mesmo dia, e todo o pagamento do funcionalismo será regularizado já em agosto.

A assessoria do município admitiu ao Terra ainda, que houve “erro” na escolha do critério de pagamento, procedimento do qual o prefeito não teria tomado conhecimento. A decisão teria sido tomada tão somente pelos departamentos de Recursos Humanos e Financeiro, do qual dois servidores, apontados como responsáveis pelo “erro”, já foram demitidos.

Perguntada pela reportagem sobre um possível atentado à liberdade de expressão no decreto do prefeito, a assessoria respondeu que o texto coíbe apenas manifestações durante o horário de trabalho. “A prefeitura entende que o tratamento desses assuntos (particulares e salariais) prejudica os trabalhos e o próprio atendimento à população. O texto considera o direito constitucional do cidadão de se manifestar. Líderes sindicais frequentavam constantemente o ambiente de trabalho para conversar, e a prefeitura entende que isso prejudica a população”, justificou a assessoria.

Por

sábado, 16 de julho de 2011

Qual o preço que pagam os paulistas por votarem nos tucanos?

Protesto: motoristas pagam pedágio com moedas de até R$ 0,25
Motoristas protestam e causam lentidão
Foto: Rose Mary de Souza/Especial para Terra
Em protesto contra o valor cobrado nos pedágios de estradas, motoristas pagaram o valor da tarifa com moedas de R$ 0,01 até R$ 0,25 na noite desta sexta-feira no km 123, da rodovia Adhemar de Barros (SP 340), que fica entre Campinas a Jaguariúna. Para sair e retornar aos dois municipios, o motorista desembolsa R$ 9,10 em cada lado da rodovia, um total de R$ 18,20, para um percurso total de menos de 30 km entre as duas cidades.
Mesmo com todas as cabines abertas para o tráfego de veículos e máquinas para a contagem rápida de moedas, a morosidade do trânsito causou filas com pico de cerca de 5 km. A Polícia Rodoviária Estadual e Polícia Militar montaram pontos de fiscalização em todos os acessos entre os municípios.
O protesto começou por volta das 20h, seguido de carreata com "buzinaço" e pessoas com nariz de palhaço. Batizada de "Movimento do Preço Justo do Pedágio", o ato surgiu no começo de mês e ganhou corpo por meio de redes sociais reunindo centenas de automóveis, caminhonetes e caminhões, com cerca de 800 pessoas no total.
A Rodovia SP 340 começa em Campinas no km 100 e tem seu primeiro posto de pedágio no km 123. A estrada é uma das principais vias de acesso para as estâncias climáticas e hidrominerais do Circuito das Águas Paulista como Serra Negra, Águas de Lindóia por exemplo. Também, faz ligação para cidades do sul de Minas Gerais como Andradas, Poços de Caldas e Jacutinga. Segundo a concessionária Renovias, empresa que administra a estrada, por dia passam 40 mil veículos em ambos os sentidos na rodovia na região entre Campinas e Jaguariúna. Em feriados prolongados o movimento salta para 100 mil veículos.
"Durante toda a semana trocamos dinheiro por moedas no comércio e temos o suficiente para aqueles que não conseguiram alcançar e querem aderir ao movimento e pagar os absurdos R$ 9,10 da tarifa ", explicou o músico Renato Moraes, 29 anos, um dos organizadores do protesto. Segundo a funcionária publica Regiane Lacerda, 41 anos, também da organização, o objetivo da manifestação é chamar a atenção das autoridades. "Não somos contra o pedágio, mas queremos pagar um preço justo", salientou.
Segundo eles há uma promessa que está no departamento de estradas do governo estadual de fazer o desmembramento da praça de pedágio com a instalação de outra no km 147. Com isso, explica Regiane, a tarifa cobrada no km 123 cairia pela metade. "Outro assunto que começou a ser discutido, e parece que não foi levado adiante, é a cobrança de pedágio por quilômetro rodado, o que seria bem mais interessante para o usuário que pagaria pelo que rodou."
Desmembramento
O último reajuste autorizado para os pedágio nas rodovias paulistas concessionadas foi em 1º de julho. Na km 123 da SP 340 a tarifa pulou de R$ 8,20 para R$ 9,10. O governo estadual justifica os cálculos baseados em contratos firmados com as empresas das rodovias privatizadas entre 1998 e 2000, os reajustes como base o IGP-M (Índice Geral de Preços ao Mercado), de 9,77%. As tarifas das demais estradas serão reajustadas a partir do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), 6,55%.
Em reunião com a Renovias, o prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis, solicitou um desconto de 70% no pagamento da tarifa da praça de pedágio do km 123 da SP 340, para os motoristas com os veículos com placa da cidade. "Esse pedágio promove uma cobrança injusta e inadequada aos usuários da rodovia, especialmente aos moradores destas duas cidades, que estão situadas a apenas 18 km de distância", disse o prefeito.
A Renovias esclarece qualquer tipo de desconto é decidido pela Artesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo). A empresa esclarece que a construção da uma nova praça, no km 147 da SP 340, em Santo Antônio de Posse, que desmembraria o pedágio do km 123, requer a remoção de um gasoduto entre desapropriações de áreas e questões ambientais que continua em estudo.
Extraído do blog: Com Texto Livre

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Institucional | 11:1315/07/2011 Ex-presidente Lula lança portal na internet

O Instituto Cidadania lançou nesta sexta-feira (15) um site para divulgar as atividades e projetos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Disponível no endereço www.icidadania.org, o site entra no ar com mais de 50 notícias, além de vídeos, fotos e discursos na íntegra. Sediado em São Paulo, o Instituto Cidadania foi onde Lula debateu e elaborou com toda a sociedade propostas de políticas públicas antes de ser eleito presidente em 2002. Hoje, ao sair da presidência, é o espaço onde está sendo criado o Instituto Lula, voltado para causas políticas e sociais no Brasil, África e América Latina.
“O Brasil vive um momento de ouro, continua vivendo um momento extraordinário, e eu espero poder conversar com vocês daqui para frente neste pequeno espaço.”, afirma Lula no vídeo. abaixo, uma mensagem do ex-presidente para dar boas-vindas aos aos internautas

Assim como o momento atual do instituto, o site é apenas o começo de novas iniciativas políticas e de comunicação.

“[Vamos] tentar trabalhar a questão da integração, tentar trabalhar as experiências de políticas sociais bem-sucedidas. Não que a gente vá querer ensinar aos outros o que eles têm que fazer, porque isso não deu certo em lugar nenhum do mundo. O que queremos é mostrar como fizemos as coisas no Brasil e, quem sabe, adequando à realidade deles, com a vontade cultural deles, com a vontade política deles, isso possa ser aplicado em outros países”, diz o ex-presidente.

Todas as informações divulgadas no site Instituto Cidadania são licenciadas sob Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil, que permite a reprodução do conteúdo desde que seja citada a fonte. São exceções a essa licença apenas as informações reproduzidas de outras fontes.

Acesse o site do Instituto Cidadania:
http://www.icidadania.org

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Antonio Candido: “O socialismo é uma doutrina triunfante”

“O socialismo é uma doutrina triunfante”
Por Joana Tavares, do Brasil de Fato

Aos 93 anos, Antonio Candido explica a sua concepção de socialismo, fala sobre literatura e revela não se interessar por novas obras

Crítico literário, professor, sociólogo, militante. Um adjetivo sozinho não consegue definir a importância de Antonio Candido para o Brasil. Considerado um dos principais intelectuais do país, ele mantém a postura socialista, a cordialidade, a elegância, o senso de humor, o otimismo. Antes de começar nossa entrevista, ele diz que viveu praticamente todo o conturbado século 20. E participou ativamente dele, escrevendo, debatendo, indo a manifestações, ajudando a dar lucidez, clareza e humanidade a toda uma geração de alunos, militantes sociais, leitores e escritores.

Tão bom de prosa como de escrita, ele fala sobre seu método de análise literária, dos livros de que gosta, da sua infância, do começo da sua militância, da televisão, do MST, da sua crença profunda no socialismo como uma doutrina triunfante. “O que se pensa que é a face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele”, afirma.

Brasil de Fato – Nos seus textos é perceptível a intenção de ser entendido. Apesar de muito erudito, sua escrita é simples. Por que esse esforço de ser sempre claro?
Antonio Candido – Acho que a clareza é um respeito pelo próximo, um respeito pelo leitor. Sempre achei, eu e alguns colegas, que, quando se trata de ciências humanas, apesar de serem chamadas de ciências, são ligadas à nossa humanidade, de maneira que não deve haver jargão científico. Posso dizer o que tenho para dizer nas humanidades com a linguagem comum. Já no estudo das ciências humanas eu preconizava isso. Qualquer atividade que não seja estritamente técnica, acho que a clareza é necessária inclusive para pode divulgar a mensagem, a mensagem deixar de ser um privilégio e se tornar um bem comum.

O seu método de análise da literatura parte da cultura para a realidade social e volta para a cultura e para o texto. Como o senhor explicaria esse método?
Uma coisa que sempre me preocupou muito é que os teóricos da literatura dizem: é preciso fazer isso, mas não fazem. Tenho muita influência marxista – não me considero marxista – mas tenho muita influência marxista na minha formação e também muita influência da chamada escola sociológica francesa, que geralmente era formada por socialistas. Parti do seguinte princípio: quero aproveitar meu conhecimento sociológico para ver como isso poderia contribuir para conhecer o íntimo de uma obra literária. No começo eu era um pouco sectário, politizava um pouco demais minha atividade. Depois entrei em contato com um movimento literário norte-americano, a nova crítica, conhecido como new criticism. E aí foi um ovo de colombo: a obra de arte pode depender do que for, da personalidade do autor, da classe social dele, da situação econômica, do momento histórico, mas quando ela é realizada, ela é ela. Ela tem sua própria individualidade. Então a primeira coisa que é preciso fazer é estudar a própria obra. Isso ficou na minha cabeça. Mas eu também não queria abrir mão, dada a minha formação, do social. Importante então é o seguinte: reconhecer que a obra é autônoma, mas que foi formada por coisas que vieram de fora dela, por influências da sociedade, da ideologia do tempo, do autor. Não é dizer: a sociedade é assim, portanto a obra é assim. O importante é: quais são os elementos da realidade social que se transformaram em estrutura estética.

Me dediquei muito a isso, tenho um livro chamado “Literatura e sociedade” que analisa isso. Fiz um esforço grande para respeitar a realidade estética da obra e sua ligação com a realidade. Há certas obras em que não faz sentido pesquisar o vínculo social porque ela é pura estrutura verbal. Há outras em que o social é tão presente – como “O cortiço” [de Aluísio Azevedo] – que é impossível analisar a obra sem a carga social. Depois de mais maduro minha conclusão foi muito óbvia: o crítico tem que proceder conforme a natureza de cada obra que ele analisa. Há obras que pedem um método psicológico, eu uso; outras pedem estudo do vocabulário, a classe social do autor; uso. Talvez eu seja aquilo que os marxistas xingam muito que é ser eclético. Talvez eu seja um pouco eclético, confesso. Isso me permite tratar de um número muito variado de obras.

Teria um tipo de abordagem estética que seria melhor?
Não privilegio. Já privilegiei. Primeiro o social, cheguei a privilegiar mesmo o político. Quando eu era um jovem crítico eu queria que meus artigos demonstrassem que era um socialista escrevendo com posição crítica frente à sociedade. Depois vi que havia poemas, por exemplo, em que não podia fazer isso. Então passei a outra fase em que passei a priorizar a autonomia da obra, os valores estéticos. Depois vi que depende da obra. Mas tenho muito interesse pelo estudo das obras que permitem uma abordagem ao mesmo tempo interna e externa. A minha fórmula é a seguinte: estou interessado em saber como o externo se transformou em interno, como aquilo que é carne de vaca vira croquete. O croquete não é vaca, mas sem a vaca o croquete não existe. Mas o croquete não tem nada a ver com a vaca, só a carne. Mas o externo se transformou em algo que é interno. Aí tenho que estudar o croquete, dizer de onde ele veio.

O que é mais importante ler na literatura brasileira?
Machado de Assis. Ele é um escritor completo.

É o que senhor mais gosta?
Não, mas acho que é o que mais se aproveita.

E de qual o senhor mais gosta?
Gosto muito do Eça de Queiroz, muitos estrangeiros. De brasileiros, gosto muito de Graciliano Ramos… Acho que já li “São Bernardo” umas 20 vezes, com mentira e tudo. Leio o Graciliano muito, sempre. Mas Machado de Assis é um autor extraordinário. Comecei a ler com 9 anos livros de adulto. E ninguém sabia quem era Machado de Assis, só o Brasil e, mesmo assim, nem todo mundo. Mas hoje ele está ficando um autor universal. Ele tinha a prova do grande escritor. Quando se escreve um livro, ele é traduzido, e uma crítica fala que a tradução estragou a obra, é porque não era uma grande obra. Machado de Assis, mesmo mal traduzido, continua grande. A prova de um bom escritor é que mesmo mal traduzido ele é grande. Se dizem: “a tradução matou a obra”, então a obra era boa, mas não era grande.

Como levar a grande literatura para quem não está habituado com a leitura?
É perfeitamente possível, sobretudo Machado de Assis. A Maria Vitória Benevides me contou de uma pesquisa que foi feita na Itália há uns 30 anos. Aqueles magnatas italianos, com uma visão já avançada do capitalismo, decidiram diminuir as horas de trabalho para que os trabalhadores pudessem ter cursos, se dedicar à cultura. Então perguntaram: cursos de que vocês querem? Pensaram que iam pedir cursos técnicos, e eles pediram curso de italiano para poder ler bem os clássicos. “A divina comédia” é um livro com 100 cantos, cada canto com dezenas de estrofes. Na Itália, não sou capaz de repetir direito, mas algo como 200 mil pessoas sabem a primeira parte inteira, 50 mil sabem a segunda, e de 3 a 4 mil pessoas sabem o livro inteiro de cor. Quer dizer, o povo tem direito à literatura e entende a literatura. O doutor Agostinho da Silva, um escritor português anarquista que ficou muito tempo no Brasil, explicava para os operários os diálogos de Platão, e eles adoravam. Tem que saber explicar, usar a linguagem normal.

O senhor acha que o brasileiro gosta de ler?
Não sei. O Brasil pra mim é um mistério. Tem editora para toda parte, tem livro para todo lado. Vi uma reportagem que dizia que a cidade de Buenos Aires tem mais livrarias que em todo o Brasil. Lê-se muito pouco no Brasil. Parece que o povo que lê mais é o finlandês, que lê 30 volumes por ano. Agora dizem que o livro vai acabar, né?

O senhor acha que vai?
Não sei. Eu não tenho nem computador… as pessoas me perguntam: qual é o seu… como chama?

E-mail?
Isso! Olha, eu parei no telefone e máquina de escrever. Não entendo dessas coisas… Estou afastado de todas as novidades há cerca de 30 anos. Não me interesso por literatura atual. Sou um velho caturra. Já doei quase toda minha biblioteca, 14 ou 15 mil volumes. O que tem aqui é livro para visita ver. Mas pretendo dar tudo. Não vendo livro, eu dou. Sempre fiz escola pública, inclusive universidade pública, então é o que posso dar para devolver um pouco. Tenho impressão que a literatura brasileira está fraca, mas isso todo velho acha. Meus antigos alunos que me visitam muito dizem que está fraca no Brasil, na Inglaterra, na França, na Rússia, nos Estados Unidos… que a literatura está por baixo hoje em dia. Mas eu não me interesso por novidades.

E o que o senhor lê hoje em dia?
Eu releio. História, um pouco de política… mesmo meus livros de socialismo eu dei tudo. Agora estou querendo reler alguns mestres socialistas, sobretudo Eduard Bernstein, aquele que os comunistas tinham ódio. Ele era marxista, mas dizia que o marxismo tem um defeito, achar que a gente pode chegar no paraíso terrestre. Então ele partiu da ideia do filósofo Immanuel Kant da finalidade sem fim. O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno.

O senhor é socialista?
Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias… tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.

Por quê?
Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.

O socialismo como luta dos trabalhadores?

O socialismo como caminho para a igualdade. Não é a luta, é por causa da luta. O grau de igualdade de hoje foi obtido pelas lutas do socialismo. Portanto ele é uma doutrina triunfante. Os países que passaram pela etapa das revoluções burguesas têm o nível de vida do trabalhador que o socialismo lutou para ter, o que quer. Não vou dizer que países como França e Alemanha são socialistas, mas têm um nível de vida melhor para o trabalhador.

Para o senhor é possível o socialismo existir triunfando sobre o capitalismo?
Estou pensando mais na técnica de esponja. Se daqui a 50 anos no Brasil não houver diferença maior que dez do maior ao menor salário, se todos tiverem escola… não importa que seja com a monarquia, pode ser o regime com o nome que for, não precisa ser o socialismo! Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas. Não tenho cabeça teórica, não sei como resolver essa questão: o socialismo foi extraordinário para pensar a distribuição econômica, mas não foi tão eficiente para efetivamente fazer a produção. O capitalismo foi mais eficiente, porque tem o lucro. Quando se suprime o lucro, a coisa fica mais complicada. É preciso conciliar a ambição econômica – que o homem civilizado tem, assim como tem ambição de sexo, de alimentação, tem ambição de possuir bens materiais – com a igualdade. Quem pode resolver melhor essa equação é o socialismo, disso não tenho a menor dúvida. Acho que o mundo marcha para o socialismo. Não o socialismo acadêmico típico, a gente não sabe o que vai ser… o que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo.

O que o socialismo conseguiu no mundo de avanços?
O socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. Se você tira os rótulos e vê as realidades, vê como o socialismo humanizou o mundo. Em Cuba eu vi o socialismo mais próximo do socialismo. Cuba é uma coisa formidável, o mais próximo da justiça social. Não a Rússia, a China, o Camboja. No comunismo tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano. E não há verdade final fora da moderação, isso Aristóteles já dizia, a verdade está no meio. Quando eu era militante do PT – deixei de ser militante em 2002, quando o Lula foi eleito – era da ala do Lula, da Articulação, mas só votava nos candidatos da extrema esquerda, para cutucar o centro. É preciso ter esquerda e direita para formar a média. Estou convencido disso: o socialismo é a grande visão do homem, que não foi ainda superada, de tratar o homem realmente como ser humano. Podem dizer: a religião faz isso. Mas faz isso para o que são adeptos dela, o socialismo faz isso para todos. O socialismo funciona como esponja: hoje o capitalismo está embebido de socialismo. No tempo que meu irmão Roberto – que era católico de esquerda – começou a trabalhar, eu era moço, ele era tido como comunista, por dizer que no Brasil tinha miséria. Dizer isso era ser comunista, não estou falando em metáforas. Hoje, a Federação das Indústrias, Paulo Maluf, eles dizem que a miséria é intolerável. O socialismo está andando… não com o nome, mas aquilo que o socialismo quer, a igualdade, está andando. Não aquela igualdade que alguns socialistas e os anarquistas pregavam, igualdade absoluta é impossível. Os homens são muito diferentes, há uma certa justiça em remunerar mais aquele que serve mais à comunidade. Mas a desigualdade tem que ser mínima, não máxima. Sou muito otimista. (pausa). O Brasil é um país pobre, mas há uma certa tendência igualitária no brasileiro – apesar da escravidão – e isso é bom. Tive uma sorte muito grande, fui criado numa cidade pequena, em Minas Gerais, não tinha nem 5 mil habitantes quando eu morava lá. Numa cidade assim, todo mundo é parente. Meu bisavô era proprietário de terras, mas a terra foi sendo dividida entre os filhos… então na minha cidade o barbeiro era meu parente, o chofer de praça era meu parente, até uma prostituta, que foi uma moça deflorada expulsa de casa, era minha prima. Então me acostumei a ser igual a todo mundo. Fui criado com os antigos escravos do meu avô. Quando eu tinha 10 anos de idade, toda pessoa com mais de 40 anos tinha sido escrava. Conheci inclusive uma escrava, tia Vitória, que liderou uma rebelião contra o senhor. Não tenho senso de desigualdade social. Digo sempre, tenho temperamento conservador. Tenho temperamento conservador, atitudes liberais e ideias socialistas. Minha grande sorte foi não ter nascido em família nem importante nem rica, senão ia ser um reacionário. (risos).

A Teresina, que inspirou um livro com seu nome, o senhor conheceu depois?
Conheci em Poços de Caldas… essa era uma mulher extraordinária, uma anarquista, maior amiga da minha mãe. Tenho um livrinho sobre ela. Uma mulher formidável. Mas eu me politizei muito tarde, com 23, 24 anos de idade com o Paulo Emílio. Ele dizia: “é melhor ser fascista do que não ter ideologia”. Ele que me levou para a militância. Ele dizia com razão: cada geração tem o seu dever. O nosso dever era político.

E o dever da atual geração?
Ter saudade. Vocês pegaram um rabo de foguete danado.

No seu livro “Os parceiros do Rio Bonito” o senhor diz que é importante defender a reforma agrária não apenas por motivos econômicos, mas culturalmente. O que o senhor acha disso hoje?
Isso é uma coisa muito bonita do MST. No movimento das Ligas Camponesas não havia essa preocupação cultural, era mais econômica. Acho bonito isso que o MST faz: formar em curso superior quem trabalha na enxada. Essa preocupação cultural do MST já é um avanço extraordinário no caminho do socialismo. É preciso cultura. Não é só o livro, é conhecimento, informação, notícia… Minha tese de doutorado em ciências sociais foi sobre o camponês pobre de São Paulo – aquele que precisa arrendar terra, o parceiro. Em 1948, estava fazendo minha pesquisa num bairro rural de Bofete e tinha um informante muito bom, Nhô Samuel Antônio de Camargos. Ele dizia que tinha mais de 90 anos, mas não sabia quantos. Um dia ele me perguntou: “ô seu Antonio, o imperador vai indo bem? Não é mais aquele de barba branca, né?”. Eu disse pra ele: “não, agora é outro chamado Eurico Gaspar Dutra”. Quer dizer, ele está fora da cultura, para ele o imperador existe. Ele não sabe ler, não sabe escrever, não lê jornal. A humanização moderna depende da comunicação em grande parte. No dia em que o trabalhador tem o rádio em casa ele é outra pessoa. O problema é que os meios modernos de comunicação são muito venenosos. A televisão é uma praga. Eu adoro, hein? Moro sozinho, sozinho, sou viúvo e assisto televisão. Mas é uma praga. A coisa mais pérfida do capitalismo – por causa da necessidade cumulativa irreversível – é a sociedade de consumo. Marx não conheceu, não sei como ele veria. A televisão faz um inculcamento sublimar de dez em dez minutos, na cabeça de todos – na sua, na minha, do Sílvio Santos, do dono do Bradesco, do pobre diabo que não tem o que comer – imagens de whisky, automóvel, casa, roupa, viagem à Europa – cria necessidades. E claro que não dá condições para concretizá-las. A sociedade de consumo está criando necessidades artificiais e está levando os que não têm ao desespero, à droga, miséria… Esse desejo da coisa nova é uma coisa poderosa. O capitalismo descobriu isso graças ao Henry Ford. O Ford tirou o automóvel da granfinagem e fez carro popular, vendia a 500 dólares. Estados Unidos inteiro começou a comprar automóvel, e o Ford foi ficando milionário. De repente o carro não vendia mais. Ele ficou desesperado, chamou os economistas, que estudaram e disseram: “mas é claro que não vende, o carro não acaba”. O produto industrial não pode ser eterno. O produto artesanal é feito para durar, mas o industrial não, ele tem que ser feito para acabar, essa é coisa mais diabólica do capitalismo. E o Ford entendeu isso, passou a mudar o modelo do carro a cada ano. Em um regime que fosse mais socialista seria preciso encontrar uma maneira de não falir as empresas, mas tornar os produtos duráveis, acabar com essa loucura da renovação. Hoje um automóvel é feito para acabar, a moda é feita para mudar. Essa ideia tem como miragem o lucro infinito. Enquanto a verdadeira miragem não é a do lucro infinito, é do bem-estar infinito.

Fonte: Escrevinhador

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Serra e Aécio fazem escola: Deputado tucano demite jornalista em Guarulhos

por Conceição Lemes

Não sei se a “doença” já está incorporada no DNA do PSDB ou se trata de “infecção” que às vezes se transmite entre tucanos, especialmente os de alta plumagem. O fato é que alguns adoram pedir aos patrões da mídia corporativa a cabeça de jornalistas que perguntam ou escrevem sobre fatos que lhes desagradam.

O ex-governador José Serra (PSDB-SP) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) são “mestres” nesse tipo de censura e estão fazendo escola. O deputado federal Carlos Roberto de Campos (PSDB-SP) é o mais novo “adepto”. Nessa quinta-feira, 7 de julho, ele pediu e conseguiu a demissão do jornalista Ricardo Gomez Filho, do jornal Metrô News, sediado em Guarulhos e que circula nas estações do metrô de São Paulo.

Há um mês Ricardo denunciou um caso de nepotismo na Secretaria de Estado da Energia, comandada por José Aníbal – deputado federal licenciado do PSDB-SP. Em maio, o adjunto dele, Ricardo Achilles, contratou o sobrinho Mateus Achilles Gomes para um cargo no departamento jurídico da Empresa Metropolitana de Águas e Esgoto (Emae), empresa subordinada à Secretaria.

Nessa semana, em entrevista agendada com o deputado Carlos Roberto de Campos para a Folha Metropolitana, Ricardo aproveitou a oportunidade e perguntou o que achava de Achilles ter contratado Gomes com o aval de José Aníbal. A Folha Metropolitana, outro jornal da empresa a que pertence o Metrô News, publica toda segunda-feira uma entrevista no formato pingue-pongue. A pergunta sobre nepotismo, que sairia de qualquer forma na segunda-feira, foi usada também em uma matéria para o Metrô News, da última quinta. O deputado Carlos Roberto é de Guarulhos.

Ricardo relembra: “Eu e o editor achamos oportuno questionar sobre nepotismo, já que Carlos Roberto vive criticando o governo federal e de outros estados, falando em ética, transparência, respeito, liberdade, essa coisa toda. Ele poderia ter se recusado a responder ou dizer que desconhecia o caso, mas optou por descer a lenha no colega de partido, e a matéria foi publicada”.

Ao tomar conhecimento da reportagem, Carlos Roberto foi à redação e exigiu que o diretor do Metrô Newsdemitisse Ricardo. Conseguiu. O jornal cedeu à pressão. Na própria quinta-feira à tarde, Ricardo foi despedido:

“Eu estava saindo da redação, que fica no terceiro andar, quando vi, de relance pelo vão da escada, o Carlos Roberto subir. A conversa nos corredores era tensa, ouvi eco de vozes, a dele se ouve de longe. O tom era de uma pessoa irada. Eu não tinha 100% de certeza de que fosse ele, apenas minha intuição indicava isso. Quando cheguei ao andar da diretoria [o primeiro], já haviam fechado as portas. Mais tarde, ao retornar, perguntei aos colegas sobre a visita e obtive a informação de que o Carlos Roberto estivera reunido com o diretor Orlando Reinas. Suspeitei do motivo. Era muita coincidência ele aparecer lá exatamente no dia que o Metrô News publicou a entrevista. Depois, o próprio pessoal da empresa começou a comentar. Quando cheguei à redação ouvi rumores, mas não dei muita importância. Mais tarde fui chamado pelo editor-responsável que me informou da demissão e o motivo. O deputado queria, por assim dizer, beber do meu sangue. Provavelmente ele foi advertido no PSDB e precisava, como me disseram, dar satisfação ao tucanato”.

Ricardo foi fiel à verdade dos fatos. Tanto que a matéria não foi desmentida. Desde sexta-feira, um dia após a demissão, conversei com ele algumas vezes, para saber mais detalhes do que aconteceu.

Viomundo — Afinal, o que o Carlos Roberto disse que desagradou os tucanos?

Ricardo Filho – O tempo todo ele se diz defensor da ética e da transparência. Eu relembrei-o desse discurso e, aí, perguntei o que achava de o Ricardo Achilles, adjunto do José Aníbal ter contratado o sobrinho Mateus Achilles Gomes para um cargo no departamento jurídico da Emae, empresa subordinada à Secretaria de Energia, com o aval do próprio secretário, que é o Anibal.

“Não concordo”, ele me respondeu. “Defendo a transparência, a ética, tanto que no meu gabinete você não vai encontrar nenhum parente meu.”

Campos afirmou que condena a prática de nepotismo independentemente de coloração partidária e a atitude do adjunto de Aníbal é “imperdoável”, uma vez que existem outros profissionais capacitados para o exercer o cargo.

“Eu condeno qualquer ação desse tipo”, prosseguiu. “Se ele [Achilles] contratou um sobrinho é porque quis proteger um parente. Isso é imperdoável.”

Viomundo – Você relatou exatamente o que ele disse?

Ricardo Filho — Claro que sim. A pergunta foi direta e a resposta também.

Viomundo – Você tem a gravação ou anotações dessa conversa?

Ricardo Filho – Sim, a gravação.

Viomundo – Quem é Carlos Roberto de Campos, além de deputado federal?

Ricardo Filho – Na verdade, é presidente do diretório municipal do PSDB e foi o 7º suplente na coligação PSDB/DEM. Quando Rodrigo Garcia (DEM) assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, ele cedeu a vaga na Câmara dos Deputados a Carlos Roberto. É um empresário de Guarulhos com várias fábricas no Brasil, Estados Unidos e Eslováquia.

Campos é dado a resolver as coisas no grito, da forma mais grotesca, mais marcante, mais ostensiva. Resolveria a questão com um telefonema, mas quis dar uma carteirada e mostrar quem manda na cidade. Guarulhos é “repartida” entre várias famílias, e o Carlos Roberto é um dos “cotistas”. O jornal, infelizmente, sucumbiu e cedeu.

Viomundo – Gostaria que você detalhasse o caso do sobrinho do adjunto do secretário José Aníbal, já que está na origem da sua demissão.

Ricardo Filho – Então vamos ao caso. O secretário-adjunto de Energia do Estado de São Paulo, Ricardo Achilles, contratou, no mês de maio, o advogado Mateus Achilles Gomes para ocupar um posto na Empresa Metropolitana de Águas e Esgoto (Emae) com salários perto de R$ 9 mil. Gomes é filho de uma irmã de Achilles.

A informação chegou ao jornal por meio de uma denúncia. Ao tomar conhecimento, levei o caso aos editores e fui autorizado a apurar. Liguei para a assessoria de imprensa da Secretária de Energia e Emae. A estatal confirmou a contratação, mas afirmou que a admissão era absolutamente regular.

Tentei uma entrevista com Achilles ou com Aníbal, mas a assessoria de imprensa negou. Como a contratação havia sido confirmada pela Emae, a matéria foi publicada com as justificativas contidas na nota da empresa.

No dia seguinte, encaminhei o arquivo digital da reportagem ao Ministério Público de São Paulo. Também ouvi o diretor da Transparência Brasil, Cláudio Abramo, que nos assegurou se tratar de um caso de nepotismo e condenou a prática. Tentei falar com o governador, mas a assessoria de imprensa dele também negou a entrevista.

Dias depois, “forças ocultas” ligadas ao titular da pasta de Energia, José Aníbal, fizeram contato com a redação e pediram para “abafar” o caso. O editor-responsável, todavia, disse que íamos continuar noticiando, porque o fato estava confirmado e por termos dado esse furo. Ele assumiu essa frente e continuamos a noticiar, aguardando que o MP se manifestasse. O que ainda não aconteceu. E Gomes continua no cargo.

No início da semana, eu tinha uma entrevista agendada com o deputado federal Carlos Roberto para ser publicada na Folha Metropolitana, nesta segunda-feira, 11 de julho. Como o parlamentar vive falando em ética, transparência, respeito, liberdade, essa coisa toda, eu e o editor-responsável decidimos fazer uma pergunta sobre o episódio de nepotismo no governo do Estado de São Paulo. Foi para medir sua isenção e comprometimento com boas práticas para publicar no Metrô e também na Folha.

Era uma pergunta que serviria para a matéria sobre nepotismo e, claro, para constar na entrevista de segunda. Eu não tinha que fazer perguntas para encher a bola do deputado e, sim, saber sobre seu mandato e sobre sua postura como líder do PSDB na cidade.

Por exemplo, por que votou a favor do Projeto do Código Florestal. Também por que um dos vereadores do PSDB na Câmara Municipal (são três) critica os gastos da Prefeitura de Guarulhos na tribuna e nos jornais locais, mas, ao mesmo tempo, distribui panfletos elogiando os CEUs e se associa à imagem do secretário de Educação, Moacir de Souza, que é do PT. É uma posição contraditória, pois para Carlos Roberto tudo o que é do PT é negativo…

Ele poderia ter se negado a responder, dizer que desconhecia o caso ou outra coisa qualquer. Mas, como se apresenta como paladino da ética, resolveu falar e criticou de forma veemente o Achilles e, indiretamente, seu colega de partido, o deputado licenciado José Aníbal, um dos pré-candidatos do PSDB à Prefeitura. Eu não o obriguei a falar nada. Me limitei a perguntar e ele disse o que pensava do adjunto do secretário. A entrevista com o Carlos Roberto foi, digamos, a gota que faltava para o copo transbordar.

Viomundo – Quer dizer então que houve pressão em função da sua primeira matéria, denunciando o nepotismo?

Ricardo Filho – Sim, mas também recebi ligações de muitas pessoas elogiando a matéria e condenando a prática do nepotismo. Eu publiquei a reportagem também no meu blog, e é uma mais lidas até hoje.

Viomundo – O que acha que passou pela cabeça do Carlos Roberto? Que você estava perguntando sobre o nepotismo do adjunto do José Anibal só por perguntar?

Ricardo Filho – Talvez não esteja acostumado com o jornalismo que eu, particularmente, e o Metrô Newsdefendemos (ou defendia?). Talvez esteja acostumado a lidar com a própria assessoria de imprensa…Sei lá…

Viomundo – E como você soube da demissão? Quem te comunicou?

Ricardo Filho – Eu fui demitido na quinta-feira, 7 de julho, mesmo dia em que a reportagem foi publicada.

Eu estava saindo da redação, que fica no terceiro andar, quando vi, de relance pelo vão da escada, o Carlos Roberto subir. A conversa nos corredores era tensa, ouvi eco de vozes, a dele se ouve de longe. O tom era de uma pessoa irada. Eu não tinha 100% de certeza de que fosse ele, apenas minha intuição indicava isso. Quando cheguei ao andar da diretoria [o primeiro], já haviam fechado as portas. Mais tarde, ao retornar, perguntei aos colegas sobre a visita e obtive a informação de que o Carlos Roberto estivera reunido com o diretor Orlando Reinas. Suspeitei do motivo. Era muita coincidência ele aparecer lá exatamente no dia que o Metrô News publicou a entrevista. Depois, o próprio pessoal da empresa começou a comentar. Quando cheguei à redação ouvi rumores, mas não dei muita importância.

Mais tarde o editor-responsável me chamou e informou da demissão e o motivo. Perguntei o que havia se passado, uma vez que estava pautado para fazer aquilo. Ele foi franco e explicou o que havia se passado, mas evitou dar muitos detalhes. Disse que também colocou o cargo à disposição, mas que não aceitaram a saída dele. Em outras palavras, o deputado queria, por assim dizer, beber do meu sangue. Provavelmente foi advertido no PSDB e precisava, como me disseram, dar satisfação ao tucanato.

Viomundo – Você já tinha vivido esse tipo de experiência?

Ricardo Filho — Trabalhei em várias revistas, em outro jornal, nunca passei por situação como essa. Já tive problemas de outra natureza, já deixei uma redação importante para não pactuar com a formação de um “clube do Bolinha” e preservar uma pessoa com muitos anos de profissão que passava por um momento conturbado na vida, mas esse tipo de situação eu desconhecia. Sou jornalista há 11 anos. Na hora em que fui comunicado, pensei se tinha apurado mal a história, se tinha sido traído pela fonte, essas coisas… Quando vieram as primeiras palavras do editor-responsável, eu entendi o que tinha se passado.

Viomundo – Como foi a reação dos teus colegas de jornal?

Ricardo Filho De modo geral, foram muito solidários e ainda estão sendo. O meu editor disse que fez o que podia. Eu acredito.

Aliás, algumas pessoas têm me perguntado sobre o papel dele. Eu reflito e penso que ele teve um papel importante para democratizar a opinião de um veículo conhecido por suas posições conservadoras. Na campanha eleitoral do ano passado, ele abriu espaço para que tratássemos da questão do aborto que vinha sendo discutida por um outro viés.

Na ocasião, a grande imprensa servia de porta-voz para que o dom Luiz Gonzaga Bergonzini associasse a imagem de Dilma ao abortismo. Publicamos uma entrevista do tipo pingue-pongue com o bispo de Guarulhos e fizemos as perguntas que outros veículos não queriam ou não podiam publicar, tratamos do suposto aborto da esposa de José Serra. Enfim, demos outra abordagem ao tema.

O editor-responsável apoiou uma série de notícias que não seria publicada em tempos anteriores. Então não vou condená-lo. Acho que caímos na mesma areia movediça. Ele, como eu, acreditava, que tínhamos total liberdade editorial, o que se não se confirmou, mas também não foi nos deixado claro pela direção.

Trabalhei numa revista semanal que esses limites ficaram claros logo ao entrar. Embora não concordasse com a linha editorial, entendia a ideologia e tinha que aceitar ou deixar a redação. Por outros problemas sai de lá, mas a minha editora era muito justa, muito honesta, uma das melhores lembranças que tenho de lá. Foi um grande aprendizado. De volta aos tempos atuais, na Folha Metropolitana e Metrô News os nossos limites eram éticos, jornalísticos, às vezes técnicos pelo tamanho do jornal. Denunciamos muitas irregularidades, fizemos um grande trabalho.

Viomundo – E agora, o que pretende fazer?

Ricardo Filho – Voltar a mandar currículo. Temo que essa exposição me cause problemas, mas sou muito honesto naquilo que faço. Então, imagino que deve ter algum lugar decente para um repórter honesto trabalhar.

Carlos Roberto é deputado hoje, mas pode não ser amanhã. Por exemplo, se o Walter Feldmann (sem partido, eleito pela coligação DEM/PSDB), que está em Londres, voltar, ele perde o posto.

Desde a academia, eu não tenho mais a ilusão de isenção total do veículo, mas acho que é preciso certa independência do jornal em relação à classe política. Não dá para fazer jornal cedendo a esse tipo de prática. E em Guarulhos isso é muito comum. Outros estiveram na redação para reclamar de notícias desfavoráveis. Nesse ano que fiquei no jornal, lembro de pelo menos quatro dessas visitas indesejadas, mas o editor-responsável sempre teve uma postura firme. Se não for assim, melhor fechar as portas, pois o nosso trabalho é o de produzir e entregar notícias com credibilidade.

Viomundo — Quais as lições da sua demissão injusta?

Ricardo Filho – Na quinta-feira, meu filho de 6 anos me viu chegar mais cedo, abatido, e perguntou o que tinha acontecido. Eu respondi de forma que ele pudesse entender que, como nos desenhos, existem homens bons e maus. Prossegui dizendo que, embora não seja herói, estava fazendo a minha parte para que no futuro o mundo seja melhor para ele, os coleguinhas da escola e as demais crianças. Disse que um mau político rico havia repreendido meu chefe porque noticiamos o que ele pensava sobre um político amigo dele, que fazia coisas erradas para a sociedade. Aí, meu filho me surpreendeu com um discurso longo no qual dizia que essas pessoas é que fazem com que os amiguinhos de outras escolas pobres não tivessem comida, nem aula, nem nada…Foi assim mesmo, da forma mais simples. Aí, ele me encheu de emoção ao dizer: “Pai, estou muito orgulhoso de você”.

A lição é continuar sendo honesto, esteja em que veículo estiver. Vou continuar trabalhando da mesma forma para honrar minha família e jornalistas que me ensinaram muito, como Pier Luigi Cabra e Nehemias Vassão, que já partiram, e aos que estão conosco, como Antonio Assiz, William Araújo e Kátia Perin.

Fonte: Vi o mundo