Esquerda Digital

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Prefeitura quebra sigilo de paciente para beneficiar campanha de Serra


Para beneficiar a campanha do candidato José Serra, a prefeitura de São Paulo resolveu quebrar o sigilo e revelar dados do prontuário médico de um paciente sem a autorização do mesmo. A atitude de Kassab e Serra é criminosa.

O Código Penal obriga os profissionais ao devido sigilo sobre as informações obtidas no exercício profissional na seção “Dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos” no artigo “Artigo 153

E vale lembrar também o juramento de Hipócrates

“Aquilo que, no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.”

Segundo o Conselho Federal de Medicina, é proibido que o médico, sem consentimento do paciente, revele o conteúdo de um prontuário ou de uma ficha médica. A revelação do segredo médico somente é permitida, diz o órgão, em casos extremos, como abuso sexual, aborto criminoso ou perícias médicas judiciais.

"É quebra de sigilo (divulgar sem autorização). O hospital ou o diretor técnico que responde por ele não pode falar da doença, por mais que o paciente esteja errado", afirmou Renato Azevedo Júnior, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. Para Reinaldo Ayer, professor de Bioética da USP, "caracteriza uma infração ética a divulgação do prontuário médico por parte do médico ou hospital, sem autorização". A Prefeitura de São Paulo é administrada pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD), que apoia o candidato do PSDB, José Serra. AE
Também publicado no blog Haddad 13 prefeito

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A democracia e seus perseguidos

Um retrato de Assange é visto na frente da embaixada equatoriana em Londres. Manifestantes se juntaram no local para apoiar o fundador do WikiLeaks. Foto: Will Oliver / AFP

O governo do Equador deu asilo ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange. O Reino Unido, com seu conhecido respeito seletivo pela legislação internacional, desenterrou uma lei bisonha para afirmar que poderia invadir a embaixada do país latino-americano, a fim de capturar seu inimigo público. Até onde consigo lembrar, esta será a primeira vez que uma embaixada é invadida pela polícia do país no qual ela está situada. Nem mesmo em ditaduras algo parecido ocorreu.


Um retrato de Assange é visto na frente da embaixada equatoriana em Londres. Manifestantes se juntaram no local para apoiar o fundador do WikiLeaks. Foto: Will Oliver / AFP
Há de se perguntar se todo esse zelo do Reino Unido pelo cumprimento de um pedido de extradição feito pela Suécia vem realmente do amor à lei. Ou será que devemos dizer que Assange é o protótipo claro de um perseguido político pela democracia liberal?

Alguns tendem a defender a posição dos governos britânico e sueco com o argumento de que, enfim, ninguém está acima da lei. Independentemente do que Assange represente, isso não lhe daria direito de “estuprar” duas garotas. É verdade que a definição de estupro pela legislação sueca é mais flexível do que a habitual. Ela engloba imagens como: um homem e uma mulher que estão na cama de comum acordo, sem nenhum tipo de coerção, mas que, em um dado momento, veem a situação modificada pelo fato de a garota dizer “não” e mesmo assim ser, de alguma forma, forçada.

Vale a pena lembrar que tal definição é juridicamente tão complicada que, quando a acusação contra Assange foi apresentada pela primeira vez à Justiça sueca, ela foi recusada por uma magistrada que entendeu ser muito difícil provar a veracidade da descrição. A acusação só foi aceita quando reapresentada uma segunda vez, não por acaso logo depois de o WikiLeaks começar a divulgar telegramas comprometedores da diplomacia internacional.

Mas não faltaram aqueles de bom coração que perguntaram: se a acusação é tão difícil de ser provada, então por que Assange não vai à Suécia e se defende? Porque a Suécia pode aceitar um pedido de extradição para os EUA, onde ele seria julgado por crime de espionagem e divulgação de segredos de Estado, o que lhe poderia valer até a pena de morte. Não seria a primeira vez que alguém enfrentaria a cadeira elétrica por “crimes” dessa natureza.

Nesse sentido, é possível montar um quebra-cabeça no qual descobrimos a imagem de uma verdadeira perseguição política. Persegue-se atualmente não de uma maneira explícita, mas utilizando algum tipo de acusação que visa desqualificar moralmente o perseguido. Assange não estaria sendo caçado por ter inaugurado um mundo onde nenhum segredo de Estado está seguramente distante da esfera da opinião pública. Um mundo de transparência radical, no qual os interesses inconfessáveis do poder são sistematicamente abertos. Ele estaria sendo caçado por ser um maníaco sexual. Seu problema não seria político, mas moral.

Desde há muito é assim que a democracia liberal tenta esconder seu totalitarismo. Ela procura desmoralizar seus perseguidos, isso em vez de simplesmente dar conta das questões que tais pessoas colocam. No caso de Assange, ele apenas colocou em prática dois princípios que todo político liberal diz respeitar: transparência e honestidade. Mostrar tudo o que se faz.

Sua perseguição evidencia como vivemos em um mundo em que todos sabem que os governos não fazem, na política internacional, aquilo que dizem. Há um acordo tácito a respeito desse cinismo. Mas, quando essa contradição é exposta de maneira absoluta, então ela torna-se insuportável.

Lembrem, por exemplo, das razões aventadas pelos governos dos países centrais para a não publicação dos telegramas: eles colocariam em risco a vida de funcionários e diplomatas. Na verdade, eles só colocaram em risco o emprego de analistas desastrados, ditadores como o tunisiano Ben-Ali (que teve seus casos de corrupção divulgados) e negociadores de paz mal-intencionados. Por isso, a boa questão é: o mundo seria melhor ou pior com pessoas dispostas a fazer o que Julian Assange fez?

Por fim, vale dizer que aqueles que realmente se interessam por uma mídia livre precisam saudar a decisão do governo equatoriano. A mídia mundial não tem direito à ambiguidade neste caso. Nunca a liberdade de imprensa esteve tão ameaçada quanto agora, diante do problema do WikiLeaks. Pois o site de Assange é o modelo de um novo regime de divulgação de informações e de pressão contra os Estados. Ele é a aplicação da cultura hacker na revitalização do papel da mídia como quarto poder.

Por Vladimir Safatle Professor da Faculdade de Filosofia da USP. Na Carta Capital

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Haddad critica morosidade em obras do metrô de SP

O candidato do Partido do Trabalhadores (PT) a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (8) que o cronograma previsto para a entrega da linha 6 do metrô inviabiliza a candidatura da cidade para sediar a Exposição Mundial de 2020.

Durante campanha na zona norte, Haddad criticou o modelo de parceria entre a prefeitura e o Metrô, que para o candidato só olha para os interesses da iniciativa privada. "A pareceria não pode significar apenas o repasse do recurso, tem de ser sentar à mesa e discutir. O plano de obras do metrô tem de atender também ao interesse da prefeitura".

O candidato lembrou que Pirituba, na zona norte, deve abrigar um centro de convenções que pode receber o evento, mas a entrega da estação de metrô prevista para o bairro aparece na terceira etapa da linha 6, e não na primeira, que deve ser concluída em 2017. "Se não adiantarmos, vamos perder a disputa para trazer a exposição", afirmou em discurso a moradores do bairro.

Em entrevista a imprensa, Haddad destacou a necessidade de pensar melhor os recursos e prometeu direcionar veras municipais e recorrer ao governo federal para viabilizar a antecipação.

"Estou me comprometendo a sentar com o governador do Estado e, se for o caso, trazer recursos, seja da prefeitura seja do governo federal, para que a estação Pirituba seja incluída na fase um", afirmou.

Realizada a cada cinco anos, a exposição é considerada um dos eventos mundiais mais importantes em termos de impactos econômicos e culturais. A última foi realizada em Xangai, na China, em 2010.

Com informações da Folha / Vermelho

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Civita, o nosso Murdoch


Rupert Murdoch durante depoimento em Londres, nesta quinta-feira 26. Foto: Pool/AFP
Rupert Murdoch, o magnata mais poderoso da mídia do Reino Unido, 81 anos, é interrogado horas a fio pela comissão parlamentar do Inquérito Leveson. Isso seria possível no Brasil de Roberto Civita? Foto: Pool/AFP
Por Gianni Carta
Policarpo Jr., diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, trocou 200 ligações com Carlinhos Cachoeira. O bicheiro goiano, escreveu o correspondente de CartaCapital em Brasília, Leandro Fortes, alega ser o pai de “todos os furos” da revista.  E Cachoeira disse estar pronto a detalhar as histórias que contou para Policarpo Jr. na CPI.
O patrão da Editora Abril, Roberto Civita, 75 anos, sabia quem era a fonte de todos aqueles “furos” da semanal mais lucrativa de sua empresa? Se for convocado para depor na CPI do Cachoeira, Civita reconhecerá que a Veja não respeitou a ética jornalística? Usar como parceiro de reportagem um criminoso com estreitos elos (às vezes acompanhados de subornos) com um senador, deputados, governadores e uma empreiteira foge à regra essencial do jornalismo: a de apurar as duas ou mais versões da mesma história.
Mas o patrão da Abril provavelmente não dará o ar da graça na CPI. Isso porque os jornalões e a tevê Globo agem em bloco para que isso não aconteça. São dois os motivos. O bicheiro, atualmente atrás das grades, favorecia os “furos” a envolver os inimigos “esquerdistas” da mídia tucana, principalmente petistas e ministros. Segundo motivo: jornalistas de outros orgãos da mídia também obtinham seus “furos” de Cachoeira.
Por essas e outras, Policarpo Jr. e a recomendável convocação de Civita para a CPI nunca estiveram no noticiário.
Enquanto isso, Rupert Murdoch, o magnata mais poderoso da mídia do Reino Unido, 81 anos, é interrogado horas a fio pela comissão parlamentar do Inquérito Leveson, que teve início em novembro de 2011. E na quarta-feira 2 até o Senado dos EUA entrou em contato com os investigadores britânicos para avaliar se abrirão um inquérito com o objetivo de investigar se a News Corporation passou a perna em leis norte-americanas.
Através de seus jornais – TimesSunday Times, Sun e News of the World – Murdoch teve grande influência nas eleições dos primeiros-ministros conservadores Margaret Thatcher, John Major, David Cameron e Tony Blair. Até aí nada de errado. Publicações europeias apoiam candidatos políticos em seus editoriais, coisa que no Brasil acontece raramente. A mídia canarinho gosta de ficar em cima do muro enquanto distorce e manipula o noticiário a favor dos candidatos conservadores preferidos pelas elites. Enfim, prima a ambiguidade e a desinformação na mídia brasileira enquanto a mídia europeia se posiciona ideologicamente, o que lhe confere credibilidade. O leitor do vespertino francês Le Monde, por exemplo, sabe ter em mãos um diário de centro-esquerda que apoia o socialista François Hollande no segundo turno da presidencial, em 6 de maio.
O problema da mídia murdochiana foram os métodos por ela usados: escutas telefônicas ilegais e suborno de policiais por informações privilegiadas foram as mais graves. De fato, o tabloide News of the World foi fechado porque a acusações acima foram provadas. Jornalistas e um detetive contratado pelo jornal foram presos.
Agora o Inquérito Leveson quer se aprofundar mais na relação da mídia com políticos e funcionários públicos. Nesse contexto, investiga o grupo de Murdoch e outras empresas de comunicação. Ao mesmo tempo, pretende avaliar se o regime regulatório da imprensa da britânica falhou. Em suma, lá no reinado fazem o que não é feito aqui: uma CPI da mídia.
Murdoch admitiu no Inquérito Leveson ter sido “lento e defensivo” em relação às escutas telefônicas ilegais. Reconheceu ter falhado ao negar o conhecimento sobre a verdadeira escala dos grampos telefônicos até 2010 devido à conduta de subordinados que o deixaram sem informações. Ou será que Murdoch fingia que não sabia de nada?
São várias as semelhanças entre Roberto Civita e Rupert Murdoch. Ambos têm fascínio pelo “American Dream”, ou seja, a possibilidade de ganhar na vida na terra do Tio Sam, onde todos – eis aí um mito – podem fazer fortuna. E, por vezes, como se vê, a qualquer custo. Civita nasceu na Itália, mas aos dois anos, em 1938, foi com a família para os EUA, onde viveu por pouco mais de uma década. Depois de passar algum tempo no Brasil foi fazer universidade na Filadélfia.
Murdoch nasceu na Austrália, onde teve início sua carreira de empresário da mídia. Depois passou vários anos no Reino Unido, onde amealhou sua fortuna. E, finalmente, foi morar nos EUA para realizar seu sonho, o de obter a cidadania norte-americana e ser dono de um grande diário, no caso o Wall Street Journal.
Segundo o Inquérito Leveson, o patrão da News Corp. não tem “capacidade” para dirigir um grupo internacional. Isso seria possível no Brasil de Roberto Civita?

terça-feira, 17 de abril de 2012

Confiança até " debaixo de cachoeira "



Novas gravações da Polícia Federal entre uma conversa entre Carlinhos Cachoeira e o ex-vereador do PSDB, Wladimir Garcez, considerado braço direito no esquema do bicheiro, mostram a influência de Cachoeira na nomeação de funcionários públicos no governo de Goiás comandado por Marconi Perillo, também do PSDB. Na gravação, Garcez, que está preso, fala que Perillo autorizou contratações de pessoas selecionadas por Cachoeira, segundo informações do Jornal Nacional.
Em conversa gravada no dia 11 de abril de 2011, a dupla comenta a nomeação de aliados para alguns cargos públicos no Estado. Cachoeira chega a elogiar o ex-vereador, afirmando que ele é "o cara que mais põe gente nesse governo". O governador Marconi Perillo, segundo a sua assessoria, diz que não teve encontro oficial com Wladimir Garcez em abril de 2011. O governador não se pronunciou sobre as supostas nomeações.
Terra

Enquanto isso Serra diz que dá " voto de confiança" a Perillo

Pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, o ex-governador José Serra disse nesta terça-feira que dá "um voto de confiança" ao governador de Goiás, Marconi Perillo, seu colega de partido.

O goiano é citado em gravações feitas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que levou à prisão do empresário de jogos ilegais Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e motivou um pedido de abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso.

Folha

E meu voto de confiança aqui vai para o " Cascão" .

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O golpe de 2002 na Venezuela: a praia Giron da mídia golpista

Por Emir Sader

A mídia latino-americana sempre foi golpista. Representante das oligarquias do continente, dirigida por um punhado de famílias (todo país tem seus Frias, Mesquitas, Marinhos, Civitas), sempre esteve envolvida nos golpes militares contra a democracia no continente, do lado dos EUA.

Se a OEA foi chamada por Fidel de Ministério das Colônias dos EUA, a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) é seu Ministério de Comunicação para as Colônias. Sempre coordenou a ação da mídia nos golpes militares e nas campanhas contra os governos democráticos do continente.

Antes mesmo da campanha que levou Getúlio ao suicídio, em 1954, e derrubou Perón em 1955, a mídia ja tinha sido participante fundamental no sangrento golpe na Guatemala, em 1954, que levou esse país a se tornar, nas décadas seguintes, naquele que sofreu os maiores massacres em um continente cheio de massacres.

Há exatamente 10 anos atrás a mídia venezuelana mobilizou e convocou um golpe militar contra Hugo Chavez. O movimento chegou a ter sucesso imediato, uma TV escandinava pode produzir "A revolução não será televisionada”, documentário já tornado um clássico do cinema de documentário sobre a América Latina. O presidente da Fiesp de lá foi nomeado presidente da ditadura que pretendia se instalar e era saudado, no Palácio Presidencial, pelos chefes da Igreja católica, pelos donos das empresas de comunicação, pelos dirigentes dos partidos de direita, enquanto Hugo Chavez era levado por militates para uma ilha e pressionado para assinar sua renúncia.

Assim que soube do golpe, o povo desceu maciçamente às ruas, dirigiu-se ao Palácio, derrubou as grades e entrou no prédio. Assiste-se nesse momento, no documentário, os chefes do golpe fugirem rapidamente pelas portas laterais do Palácio, enquanto o povo penetra nele.

As TVs e rádios golpistas simplesmente deixaram de dar notícias e passaram a projetar desenhos animados. O fugaz presidente golpista tentou enganar a CNN dando entrevista como se estivesse ainda no Palácio Presidencial, mas o próprio entrevistador lhe disse que sabia que ele já estava num quartel, fugindo. A nem veja, nem leia, eufórica, deu mais um “furo”: sua edição da semana saiu, no sábado cedo, com a notíia do golpe que teria derrubado Hugo Chavez como a grande matéria de capa. (Nenhum meio tradicional de comunicação brasileiro, todos com DNA de golpistas, recordou os 10 anos do golpe fracassado na Venezuela.)

Embora houvesse já ma doutrina e um acordo dos governos do continente de se oporem aos golpes militares, sentiu-se o silêcio ou a cumplicidade, e salvo Cuba, nã houve protestos contra a derrubada de um presidente legalmente eleito no continente. O povo venezuelano fez justiça com suas próprias mãos e recolocou Hugo Chavez na presidêcia do pais, para a qual tinha sido eleito por seu voto.

O golpe de 11 de abril de 2002 foi, para a mídia golpista latino-americana, o que a também fracassada invasão de Praia Giron foi para o imperialismo norteamericano: sua primeira grande derrota, que demonstrou que o povo do continente não a aceitar mais que ela pusesse e tirasse governantes no continente. Que agora é o povo quem decide seu destino na América Latina.

Fonte: Carta Maior

sexta-feira, 23 de março de 2012

Ana de Hollanda: “ideias do século XIX”

Por Juliana Sada

Em seu primeiro mandato, o senador mais jovem do Brasil decidiu comprar uma boa briga na área da cultura. Randolfe Rodrigues (PSOL/AP), de 39 anos, foi o responsável pela coleta de assinaturas e pela instalação da CPI que investiga o poderoso e obscuro Ecad, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, que é responsável por recolher os direitos autorais de músicas e distribuí-los entre os artistas.

Semana passada ele voltou à mídia ao conseguir aprovar na Comissão de Educação e Cultura um convite para que a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, dê esclarecimentos no Senado sobre a relação da pasta com o Ecad. O convite veio em uma semana difícil para a ministra. Artistas, intelectuais e produtores de diversas matizes políticas divulgaram dois manifestos revelando o desconforto e a insatisfação com a atual gestão, e chegando, inclusive, a sugerir um novo nome para o Ministério, caso ela saia.

Desde o início da sua gestão, Ana de Hollanda foi criticada por romper com as gestões anteriores do MinC, de Gilberto Gil e Juca Ferreira, consideradas exemplares e sintonizadas com o movimento de cultura.

Nesta quinta-feira, 22, Ana de Hollanda chegou ao topo dos assuntos mais comentados do Twitter. Talvez em uma tentativa de melhorar sua imagem, a equipe de comunicação do MinC fez uma série de postagens elogiando a ministra — de maneira um tanto exagerada. Posteriormente apagadas, as postagens diziam que ao invés da rotineira chuva no Pará, o sol brilhava para que a ministra anunciasse novos projetos culturais; outra postagem afirmava “em ritmo de Carimbó, ministra rufa os tambores”; e a frase que a levou ao Trending Topics foi a de uma comerciante do mercado Ver-o-Peso que teria exclamado: “Ana de Hollanda nada. Ana de Belém”.

Para Randolfe Rodrigues, que ainda aguarda a resposta da ministra ao convite, Ana de Hollanda estaria melhor em um governo do PSDB ou do DEM: “o programa da Dilma é um programa do século XXI e a ministra defende ideias do século XIX”.

Confiram a seguir a íntegra da entrevista que o senador concedeu ao Escrevinhador.

O senhor convidou a ministra Ana de Hollanda a comparecer ao Senado e dar explicações sobre as relações entre o Ministério da Cultura (MinC) e o Ecad. O que motivou esse convite?
Foi veiculado na imprensa um parecer do Minc favorável ao Ecad, em um procedimento movido pelo Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] contra o Ecad. Primeiro é inadequado que uma instância da República, no caso o Minc, se apresse em mover uma ação de apoio a uma entidade de direito privado. Isso acaba revelando que existem relações muito próximas entre eles, isto explicitaria porque a lei de direitos autorais não avançou mais nessa gestão. Primeiramente não é legal que haja esse tipo de relação de qualquer ministério com qualquer entidade de direito privado, e muito menos com uma entidade que está sendo alvo de uma ação.

Que outros elementos levaram o senhor a acreditar que haja essa relação próxima entre MinC e Ecad?
Se a ministra não comparecer aqui eu vou tomar como verdade o parecer emitido pelo departamento de direito autorais do MinC em defesa do Ecad. Se não houver esclarecimento, é porque existe uma relação vinculativa do Minc em favor do Ecad. É ilegal, inadequado e torna a presença da ministra insustentável. Seria a mesma coisa que o Ministério dos Esportes defender a CBF. É algo que não cabe, é uma instituição da República se rebaixando ao papel de advogado de defesa de uma instituição privada.

Eu gostaria que ela viesse aqui e me provasse que estou errado. Lamentavelmente ela vai à Câmara e não responde meu convite.

Saiu na imprensa que ela teria dito aos assessores que não iria ao Senado.
É uma decisão da ministra visto que é um convite. O Senado tem prerrogativa para transformar esse convite em convocação. E pode ser um passo que teremos que dar. É um desrespeito ao Senado, nesse caso. Ela atende ao convite da Câmara e diz que não vem ao Senado.

O trabalho da CPI do Ecad está perto do fim, certo? O senhor pode adiantar o que aparecerá no relatório final?
Não posso falar do relatório, pois a relatoria está com o senador Lindebergh [Farias, PT/RJ]. Nossa última audiência pública é segunda-feira, em São Paulo. Nós vamos ouvir cantores, compositores e artistas. Depois no prazo de duas semanas vem o relatório e então será submetido à votação na Comissão.

Eu posso falar como foi a investigação, que indica que há alguns elementos que não tem como não aparecerem. Não tem como o relatório não apoiar a criação de uma lei contra a sanha arrecadatória do Ecad. Segundo, não tem como não apontar a necessidade de criação de uma instância de fiscalização e regulamentação, para acompanhar os abusos cometidos, como no caso de um casal que tem o casamento interrompido pelos fiscais do Ecad. E terceiro, o relatório deve indiciar o Ecad por formação de cartel. Esses três elementos estiveram presentes durante toda a investigação.

Sobre essa questão do cartel, houve contato com o Cade?
Sim, conversamos com eles. Os elementos do Cade são muito fortes. Acho eu não tem como não constar isso.

O senhor afirmou que se a Ana de Hollanda não aceitar o convite, o senhor tomará como comprovada a proximidade entre o MinC e o Ecad…
Tem um ditado que diz “quem cala, consente”. Veja, alguém é acusado, ele tem o direito do contraditório e recusa? Me parece que é uma confissão de culpa. Claro que aqui não é um tribunal, mas aqui é casa de fiscalização do Executivo. Eu não tenho maioria, mas acho que a Comissão de Educação e Cultura deve tomar isso como um acinte, um desrespeito.

E o senhor disse que se ela não comparecesse, a permanência dela no Ministério seria inviável. Acha que há chance de troca no MinC?
A decisão final é da Dilma, da presidente da República. Em qualquer república democrática onde os poderes do Executivo são mais limitados, ela não teria como se manter no cargo, mas esse não é o nosso caso. A própria ministra não tem identidade programática e política com a presidente Dilma e nem com nenhum governo de esquerda. Ela seria uma ótima ministra para um governo do PSDB, do DEM, liberal…

Mas o senhor acha que haverá essa mudança?
Se a presidente quisesse alguém coerente com o programa dela, deveria mudar. A campanha da Dilma previa a mudança da lei de direito autoral. O movimento de cultura digital apoiou a campanha, foi uma das bases. E a Ana de Hollanda declarou que a internet é contra a cultura nacional. O programa da Dilma é um programa do século XXI e a ministra defende ideias do século XIX. Há um anacronismo entre o programa da Dilma e a gestão da ministra.

Porque a Dilma indicou a Ana de Hollanda, então?
Boa pergunta. Eu não sei se a presidente pesou esses critérios programáticos ou se ela acreditava que podiam ser cumpridos… Visto que a ministra não está cumprindo esse papel, acho que ela deveria ser trocada.

Fonte: Escrevinhador

sábado, 17 de março de 2012

Marta Suplicy dá palestra em Santos e defende mais espaço para mulher na política

Foto de Elisabete Alves

A senadora Marta Suplicy (PT) defendeu nesta sexta-feira mais espaço na política para a mulher brasileira. Ela esteve em Santos, na manhã desta sexta-feira, e participou do encontro 'Mais Mulheres: uma responsabilidade de toda a sociedade'. O evento aconteceu no auditório da OAB.
A senadora levantou propostas para que o sexo feminino tenha mais espaço, como os partidos adotarem a lista fechada de candidatos ao Legislativo, intercalando homem e mulher.

Segundo ela, a medida já foi adotada, por exemplo, na Argentina e na Costa Rica, localidades onde o Parlamento chegou a ter 35% de participação feminina.

No Brasil, há 15 anos, esse índice não ultrapassa a casa dos 10%. “Isso não significa uma estagnação, mas um retrocesso. Precisamos nos empenhar muito e a presidente Dilma Rousseff (PT) está nesse caminho”, ressaltou.

Ela explicou ainda que todas as propostas com o objetivo de garantir direitos e melhorar a vida das mulheres são elaboradas por parlamentares do mesmo sexo. “Não somos melhores nem piores que os homens, somos diferentes”.

Marta defendeu a igualdade entre homens e mulheres nos espaços dos poderes público e privado, como 50% das chapas partidárias serem compostas por uma bancada feminina. Ela também considera a igualdade essencial para o desenvolvimento do País.

"Se não houvesse discriminação no mercado de trabalho, a produtividade subiria até 25%", afirma, baseada em dados do relatório Igualdade de Gênero e Desenvolvimento, lançado pelo Banco Mundial (Bird) no Congresso Nacional.

Ainda sobre a discriminação, a senadora lamentou o fato de muitas mulheres não se candidatarem por não terem o apoio dos partidos.

terça-feira, 6 de março de 2012

Revista Veja é a semanal mais cara do mundo. Alguém paga?

A The Economist, melhor revista publicada atualmente, custa US$ 24,99 por 6 meses no Ipad. A The New Yorker fica por US$ 6,99 a assinatura mensal e a Newsweek custa apenas US$ 19,99 por um ano de assinatura. A veja cobra US$ 4,99 por revista

Revista Veja Mais cara MundoPierre Lucena, em Acerto de Contas

Recentemente escrevi um texto falando do equivocado modelo de negócios que estaria sendo utilizado pelas publicações no Brasil para suas edições nos tablets.

A Veja atualmente cobra US$ 4,99 por cada revista no Ipad, a Isto é e a Época cobram US$ 3,99 e a Carta Capital ainda distribui gratuitamente e não definiu o valor da cobrança, que deve iniciar ainda este mês.

Mas eis que esta semana olho a capa da Veja, que vem com o seguinte título: Por que o Brasil tem o iPhone mais caro do mundo?

A matéria, honesta em seu conteúdo, reclama dos altos custos de colocação no mercado brasileiro, especialmente dos impostos. Fala também da tentativa da Apple de empurrar o modelo mais modesto, o iPhone 4 de 8 GB, pelo preço semelhante ao modelo superior, o 4S. No exterior os modelos anteriores recebem um grande incentivo de preço para atingir consumidores com menor poder de compra.

Antes da publicação da revista, o Blog do Iphone já havia citado este fato, sugerindo que ninguém comprasse este modelo, especialmente pela falta de respeito com o consumidor.

Mas até aí nada demais. É apenas uma falha de mercado que tende a ser corrigida com o tempo.

Leia mais

E já que a Veja fez a pergunta, complemento: Por que a Veja é a revista semanal mais cara do mundo no iPad?

A The Economist, melhor revista publicada atualmente, custa US$ 24,99 por 6 meses, a The New Yorker fica por US$ 6,99 a assinatura mensal e a Newsweek custa apenas US$ 19,99 por um ano de assinatura.

A Veja, assim como as outras revistas, tentam a todo custo empurrar a edição de papel, em um gesto desesperado de frear o inevitável crescimento das publicações digitais. Essa tentativa equivocada se assemelha à luta boquirrota de gravadoras de CDs, que ainda não conseguiram se adequar ao novo modelo de negócios.

No caso da Veja, talvez devesse olhar para dentro de seu modelo de negócios e fazer uma autocrítica antes de reclamar da esperteza alheia.

Fonte: Pragmatismo Político