Foto: Ivan Pacheco/Terra
Mais uma vez, um deslizamento de encosta provoca mortes em São Paulo. Ontem, o desastre ocorreu na Estrada do Alvarenga, na zona sul da capital, soterrando casas em uma favela. A Defesa Civil já confirmou que cinco pessoas foram atingidas e pelo menos uma delas morreu. Outras duas pessoas já foram resgatadas com vida, e sofreram apenas ferimentos leves.
Segundo informações obtidas por este blog, nesta área já ocorreu quase uma dezena de deslizamentos e, na última década, registrou-se mais de oito mortes, sendo a maioria de crianças e idosos.
A área é de preservação permanente (encosta com alta declividade), de acordo com o código florestal brasileiro. Portanto, o poder público não deveria ter permitido sua ocupação, que se originou dos despejos patrocinados pela administração Maluf, para a construção da Av. Águas Espraiadas.
Na época, além do prefeito de triste memória, o governo estadual, especialmente o então governador Mário Covas e o secretário de Meio Ambiente, Fábio Feldmann, foram avisados do processo de ocupação, em local onde havia dois lixões desativados (um de São Paulo e outro de Diadema). No processo de ocupação, 50 mil m² de mata foram derrubados. A denúncia teve repercussão, pois foi veiculada no SPTV, da Globo paulistana.
O deslizamento atingiu moradias no sopé da encosta, objeto de uma grande intervenção financiada pelo PAC, em parceria com a Prefeitura e o estado. Especula-se que o acidente teria sido provocado pela infiltração de água servida de ocupações a montante e pelo peso de uma retroescavadeira que operava no local (foto).
Embora de grande importância, o cronograma da obra estava atrasado e as autoridades (ir)responsáveis não “conseguiram” retirar as famílias residentes à jusante, nem tampouco controlar o esgoto mal conduzido, à montante. O resultado da política urbana segregacionista malufista, somada à falta de ação do estado e da União, deu no que deu: mais uma tragédia que poderia perfeitamente ter sido evitada.
Este tipo de ocorrência está intimamente vinculada a políticas de supervalorização da terra, patrocinadas pelo Estado e orientadas para o enriquecimento e usufruto de poucos (automóvel). É um processo tragicamente recorrente, no Brasil, e que provoca desastres ambientais e mortes sem fim, em localizações distantes da vista de quem só lê Veja e Folha de São Paulo.
Extraído do blog: Olhar praiano
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