Esquerda Digital

terça-feira, 27 de setembro de 2011

737 donos do mundo controlam 80% do valor das empresas mundiais

Um estudo de economistas e estatísticos, publicado na Suíça neste Verão, dá a conhecer as interligações entre as multinacionais mundiais. E revela que um pequeno grupo de actores económicos – sociedades financeiras ou grupos industriais – domina a grande maioria do capital de dezenas de milhares de empresas no mundo.

Por Ivan du Roy
Wall Street - Foto de Michael Aston/Flickr
Wall Street - Foto de Michael Aston/Flickr

O seu estudo, na fronteira da economia, da finança, das matemáticas e da estatística, é arrepiante. Três jovens investigadores do Instituto federal de tecnologia de Zurique1 examinaram as interacções financeiras entre multinacionais do mundo inteiro. O seu trabalho - “The network of global corporate control” (“a rede de controlo global das transnacionais”) - examina um painel de 43.000 empresas transnacionais (“transnacional corporations”) seleccionadas na lista da OCDE. Eles dão a conhecer as interligações financeiras complexas entre estas “entidades” económicas: parte do capital detido, inclusive nas filiais ou nas holdings, participação cruzada, participação indirecta no capital...
Resultado: 80% do valor do conjunto das 43.000 multinacionais estudadas é controlado por 737 “entidades”: bancos, companhias de seguros ou grandes grupos industriais. O monopólio da posse capital não fica por aí. “Por uma rede complexa de participações”, 147 multinacionais, controlando-se entre si, possuem 40% do valor económico e financeiro de todas as multinacionais do mundo inteiro.
Uma super entidade de 50 grandes detentores de capitais
Por fim, neste grupo de 147 multinacionais, 50 grandes detentores de capital formam o que os autores chamam uma “super entidade”. Nela encontram-se principalmente bancos: o britânico Barclays à cabeça, assim como as “stars” de Wall Street (JP Morgan, Merrill Lynch, Goldman Sachs, Morgan Stanley...). Mas também seguradoras e grupos bancários franceses: Axa, Natixis, Société générale, o grupo Banque populaire-Caisse d'épargne ou BNP-Paribas. Os principais clientes dos hedge funds e outras carteiras de investimentos geridos por estas instituições são por conseguinte, mecanicamente, os donos do mundo.
Esta concentração levanta questões sérias. Para os autores, “uma rede financeira densamente ligada torna-se muito sensível ao risco sistémico”. Alguns recuam perante esta “super entidade”, e é o mundo que treme, como o provou a crise do subprime. Por outro lado, os autores levantam o problema das graves consequências que põe uma tal concentração. Que um punhado de fundos de investimento e de detentores de capital, situados no coração destas interligações, decidam, por via das assembleias gerais de accionistas ou pela sua presença nos conselhos de administração, impor reestruturações nas empresas que eles controlam... e os efeitos poderão ser devastadores. Por fim, que influência poderão exercer sobre os Estados e as políticas públicas se adoptarem uma estratégia comum? A resposta encontra-se provavelmente nos actuais planos de austeridade.

Artigo de Ivan du Roy, publicado em Basta!,
traduzido por Carlos Santos para esquerda.net
O estudo em inglês pode ser descarregado aqui

Buscado no Esquerda.net

Extraído do blog Jader Resende

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Deputada quer imposto sobre grandes fortunas para aumentar recursos da saúde

A deputada Jandira Fegali (PCdoB-RJ) defendeu nesta terça-feira (20) a aprovação do Projeto de Lei Complementar 48/11, do deputado Dr. Aluizio (PV-RJ), que regulamenta o imposto sobre grandes fortunas para financiar a saúde. A deputada é relatora do projeto na Comissão de Seguridade Social e Família, e disse que essa pode ser uma das fontes de recursos adicionais, já que não há ambiente de recriar a CPMF.

Segundo Jandira, que participa de comissão geral sobre a regulamentação da Emenda 29 (PLP 306/08), a saúde no Brasil está subfinanciada porque desde o começo se pensou no investimento mínimo previsto pela Constituição como o teto para o investimento de municípios, Estados e da União.

“Esses recursos são metade do que diz a Organização Mundial da Saúde para um país que queira dar atenção total à sua população. Devíamos estar investindo 6% do PIB, e estamos em 3,7%”, afirmou.

Por sua vez, o líder do PP, deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), defendeu a regulamentação da Emenda 29, mas ressaltou que é preciso rediscutir as responsabilidades de municípios, Estados e da União, e não apenas do ponto de vista dos recursos empregados.

“É necessário priorizar as ações no município, para discutir na prática quem está responsável pelas ações”, disse.

Uol

Emir Sader: A primavera dos direitos humanos

Com a apresentação do projeto da Comissão da Verdade no dia 21 (amanhã), começa a primavera dos direitos humanos no Brasil.


Por Emir Sader

O golpe de 1964 interrompeu brutalmente o desenvolvimento democrático do país e a ditadura militar que foi instaurada se apropriou violentamente do Estado brasileiro e impôs à sociedade um regime de terror durante mais de duas décadas. Foi o momento mais terrível da história do Brasil desde o término da escravidão.

Foram perpetrados os crimes mais brutais, valendo-se do aparato de Estado contra a democracia, contra o povo, contra sua cultura, contra toda forma de liberdade conquistada ao longo do tempo. A ditadura militar foi um regime que modificou profundamente a história do Brasil, destruindo tudo o que havia de democrático no país, realizando uma política econômica de concentração de renda, de exclusão social e de desnacionalização da economia. Foi o pior regime que o Brasil já conheceu, o que mais violou os direitos humanos no país.

Na sua fase final, a ditadura decretou uma anistia que a favorecia, amalgamando vencidos e vencedores, verdugos e vítimas, apagando da história do país todas as violações que a ditadura havia cometido. Com isso, além da impunidade dos agentes do terror da ditadura, impediu que se apurasse tudo o que foi feito, buscando apagar aquele período da memória dos brasileiros.

A ditadura militar se esgotou, mas conseguiu controlar a transição, com a eleição do primeiro presidente civil pelo Colégio Eleitoral e com a manutenção da anistia imposta pelo velho regime e não decidida democraticamente pela cidadania.

Nesta semana, a secretária dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, entregará ao presidente da Câmara dos Deputados o projeto da Comissão da Verdade. O Congresso vota no dia 21, dia do começo da primavera, o projeto que permitirá à sociedade brasileira apurar a verdade, sobretudo o que aconteceu naquele momento de domínio da ditadura sobre a democracia, do terror sobre a liberdade, da força sobre a razão.

Esse é o espaço que a sociedade brasileira consegue para passar a limpo e, só depois de ter satisfeito seu justo direito ao conhecimento de tudo o que ocorreu, virar essa triste página da nossa história. Todos os que estão comprometidos com essa busca – goste-se ou não da forma particular que é possível hoje a busca da verdade – têm que mobilizar toda sua energia, para que triunfe, finalmente, a verdade e vivamos, finalmente, a primavera dos direitos humanos no Brasil.

Fonte: Vermelho

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cutrale além de aliciar trabalhadores cobra refeição

Envolvida em constante disputa judicial por aquisição ilegal de terras griladas na cidade de Iaras, São Paulo, a Cutrale agora é flagrada pelas condições subumanas com que trata seus trabalhadores.
Fiscais do Ministério do Trabalho encontraram irregularidades no alojamento de colhedores de laranja em Itatinga, São Paulo, que foram trazidos do Maranhão para trabalhar em uma fazenda da Cutrale.
Alguns trabalhadores foram ouvidos pelos fiscais do Ministério Público. Em seguida, foi realizada uma fiscalização no alojamento que fica em Itatinga. Mais de 20 homens vivem espalhados na casa de um prédio antigo, onde só há um banheiro com chuveiro aquecido.
Procuradores estiveram no alojamento da Cutrale em Itatinga, no centro-oeste paulista, e vistoriaram a casa, checaram documentos e conversaram com os trabalhadores do Maranhão. Os responsáveis pela alimentação dos funcionários também foram ouvidos.
Além das más condições do alojamento, os trabalhadores reclamam que pagam R$ 12 por dia pela alimentação, mas antes de virem a São Paulo, o valor acertado, segundo eles, era de R$ 1,25. Para Luis Henrique Rafael, promotor de Justiça do Trabalho, os trabalhadores foram aliciados, o que é crime.
As 32 pessoas chegaram a São Paulo no final de agosto. Dez deles fizeram empréstimo bancário para pagar a passagem de volta e retornaram no começo da semana. Outros 22 continuaram no alojamento.
Dois representantes da Cutrale estiveram no local e conversaram com os procuradores. Em nota, a empresa informa que já que está providenciando a rescisão de contrato dos trabalhadores que querem voltar para casa e que todos vão receber os direitos trabalhistas previstos em lei.
Ainda segundo a empresa, os funcionários contratados para a colheita de laranja são registrados em carteira e o acerto de contas deve ser finalizado ainda esta semana.

Com Agências de Notícias

domingo, 11 de setembro de 2011

Golpe de Estado: EUA foram os algozes do 11 de setembro no Chile



Antes de serem vítimas do 11 de Setembro de Osama bin Laden, os Estados Unidos foram algozes num outro 11 de setembro, no Chile, 38 anos atrás. O golpe que derrubou o presidente socialista Salvador Allende, com apoio norte-americano, instaurou uma ditadura brutal, responsável pela morte de três mil pessoas e pelas torturas cometidas contra 28 mil, na estimativa conservadora dos registros oficiais.

Mas se lições ligam estes dois episódios, elas não foram aprendidas. É o que disse ao Opera Mundi um dos protagonistas desta data negra para o Chile, o cientista político Heraldo Muñoz, de 63 anos, membro do breve governo Allende. Hoje, Muñoz é subsecretário geral do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em Nova York. Mas o cargo diplomático não o impediu de fazer uma leitura crítica da política norte-americana.

“Estas duas histórias se comunicam pela porta dos fundos, já que os EUA foram atores em ambos os casos”, disse Muñoz, em entrevista concedida por email. “Primeiro, Washington ajudou a perpetrar a violência no Chile contra um povo indefeso. Mais tarde, os norte-americanos foram objeto da violência fanática no 11 de Setembro de 2001, que também cobrou vitimas inocentes. Mas não sei se a lição histórica – da necessidade de respeitar irrestritamente os direitos humanos – foi aprendida por eles”, afirmou.

Chile: epitáfio do outro 11 de setembro

Em 1973, Muñoz dirigia um ambicioso projeto idealizado por Allende, chamado Almacenes del Pueblo (Armazéns do Povo), uma rede que pretendia fazer chegar comida à população, sem depender da intermediação dos empresários privados do ramo. Na época, donos de supermercados e armazéns faziam lockouts para esconder produtos alimentícios, como forma de jogar o povo contra o governo da Unidade Popular (UP) e forçar a derrubada de Allende, que, em resposta, começou a confiscar e estatizar redes privadas de supermercados.

As medidas do governo da UP – que também nacionalizou o cobre, principal produto de exportação do Chile, e deu início a uma profunda reforma agrária – encontrou resistência imediata da direita. Em tempos de Guerra Fria, a ameaça representada por um modelo socialista e democrático no que os EUA viam como seu quintal, era algo inadmissível.

No dia 11 de setembro de 1973, o general chileno Augusto Pinochet liderou o golpe de Estado contra Allende. O Palacio de la Moneda, sede do governo, foi bombardeado por caças da Força Aérea do Chile (Fach), enquanto atiradores posicionados nos edifícios do centro de Santiago disparavam contra os poucos membros da guarda presidencial, leais a Allende. Cercado, o presidente fez seu último discurso, transmitido pela rádio, antes de suicidar-se com o disparo no queixo de um fuzil AK-47, presente do amigo cubano Fidel Castro.

“O 11 de setembro do Chile significou a perda da democracia e a interrupção da aspiração de construir o socialismo por uma na via pacifica, pela força dos votos”, analisou Muñoz. “O golpe marcou as vidas de toda uma geração, em todo o mundo. Uma vez, nos anos 1990, eu estive com a ex-primeira ministra do Paquistão Benazir Bhutto, assassinada em 2007, e ela me falou do impacto que o nosso 11 de setembro teve nas forças progressistas paquistanesas neste momento, não apenas no Paquistão, mas também em toda a Ásia e no mundo inteiro.”

Os EUA como algozes

O governo norte-americano – que travava, então, uma guerra sem fronteiras contra o comunismo – viu no Chile o embrião de uma experiência com potencial para levantar uma verdadeira onda esquerdista na América Latina. A resposta de Washington veio por meio do então chefe do Departamento de Estado no governo de Richard Nixon, Henry Kissinger. “Não vejo porque temos de esperar e permitir que um país se torne comunista por causa da irresponsabilidade de seu próprio povo”, afirmou Kissinger.

Um dia depois do golpe no Chile, Kissinger conversou com Nixon sobre o ocorrido. “Há algo novo, que seja de importância?”, perguntou o presidente. “Nada grave. A coisa do Chile é questão de consolidação e, é claro, os jornais são sangue por todos os lados porque um governo pró-comunista foi derrubado”, respondeu Kissinger, antes de agregar: “no período de Eisenhower (presidente norte-americano que forjou a doutrina segundo a qual os EUA deveriam intervir em qualquer país do mundo que sofresse influência soviética) teríamos sido heróis.” Nixon, receoso, perguntou: “Bom, como você sabe, nossa mão não pode ser detectada neste caso”. E ouviu de seu braço direito: “Claro. Não há nenhuma dúvida disso. Eu me refiro ao fato de que nós os ajudamos (trecho ilegível) a criar as condições mais favoráveis possíveis”. Nixon encerra a conversa dizendo: “Muito bom. É o que deveria ter sido feito.”

Mas Muñoz reconhece que o dramático golpe de 1973 também provocou inevitavelmente respostas positivas da sociedade. “O movimento global dos direitos humanos nasceu, em grande medida, em resposta ao 11 de setembro chileno. Hoje, acredito que a data lembra, além da dor da perda de vidas humanas e violações dos direitos humanos, a necessidade de conjugar mudanças sociais e consolidação da democracia”, disse.

A herança do 11/9

O Chile de hoje está construído sobre uma Constituição elaborada durante a ditadura, nos anos 1980. O país é democrático. A Carta, nem tanto. Ela “fossilizou” um sistema político binominal, como disse o jornal britânico Financial Times há uma semana. Só chegam a presidente os candidatos ligados aos dois grandes blocos políticos existentes hoje. De um lado, a Concertação – que governou o Chile por 20 anos, do fim da ditadura, em 1990, até o ano passado – de outro lado, a Coalizión por El Cambio, que em março de 2010 venceu as eleições, dando início ao primeiro governo de direita no Chile desde o fim do governo militar. E o primeiro de direita eleito democraticamente no país em 50 anos.

Para o chileno Claudio Fuentes Saavedra, PhD em Ciência Política pela Universidade da Carolina do Norte, a Constituição foi “um exercício de engenharia institucional elaborada em 1980, que transferiu a soberania popular a um corpo de representantes que, embora sejam eleitos, na prática, podem alterar as normas básicas de convivência nacional à margem de qualquer escrutínio cidadão”.

Prova disso é que o país amarga há quase quatro meses sua maior crise política desde a redemocratização. Milhares de estudantes pedem o fim do lucro na Educação e a melhoria da qualidade do ensino. Apesar de ter o respaldo de 80% da população, estas propostas não avançam. A Constituição proíbe a realização de referendos, plebiscitos e outras consultas populares diretas, salvo sob condições bastante estritas, como um impasse entre o Executivo e o Legislativo. Assim, o país segue imobilizado. Mesmo com o governo tendo a aprovação de apenas 26% dos chilenos.

Além da Constituição, os reflexos concretos do 11 de Setembro chileno também são perceptíveis no sistema hiper privatizado. Não existe nenhuma possibilidade de que um trabalhador chileno possa aderir hoje a um sistema público de aposentadoria. A saúde também é esmagadoramente explorada por planos privados. E nenhum estudante tem direito a estudar em uma universidade pública gratuita, salvo se conseguir acesso a uma bolsa de estudo.

O país levou a extremos inimagináveis o liberalismo econômico, encarnado pela geração dos Chicago Boys, discípulos do Consenso de Washington que fizeram do Chile um tubo de ensaio para uma abertura econômica sem limites, ainda durante a ditadura.

O país tem crescido a uma taxa de 6% ao ano, mas é um dos mais desiguais da América Latina. De acordo com Julio Berdegué, doutor em Ciências Sociais e pesquisador do Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento Rural, quatro famílias do país detém o equivalente ao salário de 80% da população. A principal delas é a do presidente Sebastián Piñera, dona de uma fortuna avaliada em US$ 2,4 bilhões.

Fonte: Opera Mundi
Publicado também no blog Tudo em Cima

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Promotor da editora abril humilha garotas negras na Bienal do Livro

"Pretas do cabelo duro" e "Não gosto de mulheres negras" foram expressões usadas pelo representante da Editora Abril para impedir que as meninas participassem de promoção

Meninas vão à delegacia registrar queixa
Alunos da Escola Estadual Guilherme Briggs, em Santa Rosa, Zona Sul de Niterói, sentiram na pele, na tarde da última segunda-feira, a dor do preconceito racial, que supostamente para muitos não ocorreria mais em nosso país, muito menos nas dependências de uma feira literária, onde nossa cultura é expressada das mais variadas formas, nas páginas publicadas por inúmeras editoras. Preconceito e injúria racial são crimes passíveis de prisão, no artigo 9º da Lei 7716/89.

De acordo com a diretora da escola, Alcinéia de Souza, o fato entristeceu e chocou os alunos da unidade, uma das mais conhecidas do município, foi registrado ontem da Delegacia Legal de Icaraí (77ª DP), e formalmente encaminhado à Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos.

Leia mais:

De acordo com a diretora do estabelecimento de ensino, na tarde de segunda-feira ela levou um grupo de 45 alunos que cursam o Ensino Médio da escola até a Bienal do Livro 2011, que se realiza no pavilhão do Riocentro, na Zona Oeste do Rio. No local, entusiasmados os alunos, com idades entre 15 e 17 anos, se espalharam para apreciar os vários estandes. Segundo os alunos e a diretora, num deles da Editora Abril ocorria uma promoção, onde eram distribuídos uma espécie de senha para que os jovens prestigiassem a tarde de autógrafos do ator e apresentador Rodrigo Faro.

Entusiasmadas, duas alunas do colégio, de 16 e 17 anos, se dirigiram até um dos promotores, inicialmente identificado apenas como "Pedro" ou "Roger" - no intuito de conseguir uma das senhas. Do promotor as alunas ouviram (incrédulas) insultos do tipo: "Não vamos dar a senha porque vocês são pretas do cabelo duro", e também "não gosto de mulheres negras, por isso não darei senhas para vocês". Segundo uma das alunas, indignada com a ofensa ainda tentou argumentar com o promotor - "isso é um tipo de bullying, e pode te trazer problemas". Com resposta o promotor rebateu, afirmando que isso não daria problema nenhum para ele".

Como o grupo estava espalhado pelo pavilhão de exposições, a diretora da escola afirmou que só tomou conhecimento do fato quando os alunos já estavam deixando o evento. Revoltada, Alcinéia retornou ao estende da Editora Abril, à procura do responsável pela representação da empresa, que de acordo com ela pediu-lhe desculpas (omitindo a identificação do promotor) e alegando que tomaria providências. "Sentindo-se humilhada, uma das alunas disse que sequer conseguiu dormir de segunda para terça-feira", explicou Alcinéia, que no início da tarde de ontem, acompanhada dos alunos, pais, e de um advogado (que também é professor da unidade), José Carlos de Araújo, registrou queixa de crime de Injúria e Preconceito Racial na 77ª DP. A distrital encaminhou o procedimento para a Delegacia Legal do Recreio dos Bandeirantes (42ª DP).

Leia também:
Nunca sorria de um preconceito, pois preconceitos sempre matam pessoas

"Ensinamos os princípios da cidadania para os alunos, explicando inclusive que independe de quem sejam, e agora eles passam por uma experiência terrível dessas ? Os alunos da escola estão chocados com o que aconteceu. Fiz questão de comparecer junto com os pais desses estudantes na DP para relatar esse triste fato. Esses estudantes são como filhos pra mim", disse Alcinéia. "Em pleno século XXI isso ainda acontece em nosso país. Esse fato não se esgota na esfera criminal. Não desejamos isso para nosso país", disse José Carlos de Araujo, que junto com a diretora, os alunos, e com a cópia do registro levou também ontem o fato ao conhecimento da Secretaria Estadual de Assistência Social de Direitos Humanos para que providências sejam tomadas.

Representantes da Editora Abril não quiseram se pronunciar.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Privatas do Caribe: Amaury vem aí!

por Rodrigo Vianna

Uma das fotos que Amaury deve utilizar no livro...

Na tela do computador, o título chamativo: “A GRANDE LAVANDERIA”. Logo abaixo, um pequeno resumo explica o que são ”as ilhas que lavam mais branco…”. Ilhas do Caribe. É o capítulo 4, de um total de 15, que já seguiram para a editora. Agora, falta a revisão final. E depois tudo vai para a gráfica. À frente do computador, o jornalista responsável pela investigação: Amaury Ribeiro Júnior.“Olha essa frase, tá bom isso, ocê não acha? Hem, hem?” Ele saboreia cada capítulo como se fosse um filho.

“Siga o dinheiro, ele sempre conta a história”, diz Amaury, resumindo o foco de uma apuração que durou 10 anos. O repórter premiado começou a investigar os caminhos (e descaminhos) dodinheiro das privatizações da Era FHC quando ainda era repórter de “O Globo”. Pergunto se conseguiu publicar alguma coisa no jornal carioca: “ocê é doido, rapaz, eles não mexem com isso não”.

O Amaury tem um jeito de matuto. Numa profissão em que jovens jornalistas gostam de se vestir como se fossem executivos do mercado financeiro, ele prefere a simplicidade. E com esse jeito de mineiro que não está entendendo bem o que se passa em volta, consegue tudo: papéis, documentos, informações. Sobre a mesa de trabalho, o caos criativo. Parte daquela papelada vai parar no livro, na forma de anexos: são documentos que ajudam a contar a história. ”Tá bom o livro, não tá? Hem, hem?”. Quase todas as frases do Amaury terminam com esse “hem, hem!”.

Um outro colega passa em frente à mesa do Amaury, e finge que vai levar parte dos documentos: “Ocê é doido, faz isso não”. Depois, emenda uma frase meio enrolada. Parece que ele usa aquela tática do velho Miguel Arraes: metade do que o Amaury diz a gente não entende. Mas o que ele escreve é fácil de entender.

O capítulo 4 conta a história da Citco, empresa com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. “E o que é a Citco?” eu pergunto. “A Citco é uma espécie de barco dos corsários, é por ali que o dinheiro circula”. Segundo Amaury Ribeiro Junior, a Citco é especializada em abrir empresas “offshore”. O termo vem da época dos corsários de verdade: “eles saqueavam os mares, e depois escondiam o fruto dos saques ’offshore’, ou seja, fora da costa, longe dos olhos das pessoas”, explica o repórter.

Em setembro de 2010, publiquei aqui no Escrevinhador um aperitivo sobre o tema: “Citco, esse é o mapa da mina” . Agora, recebo mais mais detalhes, que estarão no livro. Quem já usou esse esquema, Amaury? “Os doleiros do Banestado usavam, a turma da Georgina usava nas fraudes da Previdência, e a turma que faturou com as privatizações também usou”. É o que Amaury vai explicar (e provar, ele garante) no livro “OS PRIVATAS DO CARIBE”. Hoje, ele me mostrou alguns capítulos. Já estão todos prontos. Os títulos dão uma pista do que vem por aí:

- “OS TUCANOS E SUAS EMPRESAS-CAMALEÃO”

- “OS SÓCIOS OCULTOS DE SERRA”

- “MISTER BIG, O PAI DO ESQUEMA”

- “A FEITIÇARIA FINANCEIRA DE VERÔNICA”

- “DOUTOR ESCUTA, O ARAPONGA DE SERRA”.

Quais são as empresas camaleão? Quem administrava as empresas? Quais foram as feitiçarias de Verônica? E quem é o “doutor escuta”? Tudo isso o Amaury promete contar em detalhes.

Aqui, no “VioMundo” do Azenha, você lê um dos capítulos.

Vocês se lembram que, durante a campanha eleitoral de 2010, Amaury foi acusado de quebrar o sigilo da família de Serra, num esquema que serviria ao PT. Amaury nega tudo. Ele tem certeza que as acusações – publicadas com destaque na imprensa serrista – eram uma retaliação: “os tucanos sabiam que eu tinha investigado isso tudo, e que a investigação ia virar livro, tentaram me queimar”. Na reta final da eleição, um emissário de Serra chegou a procurar Amaury. Ligou até na redação da Record atrás dele. Amaury acha que os tucanos queriam propor algum tipo de acordo…

Ao fim da campanha, com Serra derrotado, muita gente chegou a duvidar da existência do livro sobre as privatizações. ”O Amaury blefou”, diziam alguns leitores. A turma do PSDB mesmo deve ter achado que ele não teria coragem de publicar os resultados da investigação de uma década. Agora, podem ter uma surpresa.

Mas não pensem que o livro ficará barato para o PT. Amaury mostra como ele virou pivô de uma luta interna nos bastidores da campanha de Dilma. Um capítulo inteiro é dedicado a essa história:“COMO O PT SABOTOU O PT”.

Amaury só não explica uma coisa: como é que consegue escrever livro sobre dinheiro no Caribe, produzir reportagens especiais pra TV em São Paulo e ainda administrar “a melhor pizzaria do Brasil”. A pizzaria fica em Campo Grande (MS).

“Mas Amaury, repórter dono de pizzaria é piada pronta”, provoco. “Ocê precisa experimentar minha pizza, é a melhor do Brasil”, ele diz, maroto. E emenda mais uma frase incompreensível sobre mussarela e calabresa.

A pizza eu não quero. Prefiro o livro.

Fonte: Escrevinhador

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Lula no 4º Congresso Extraordinário do PT


Também nos blogs: Com Texto Livre e Blog do Saraiva

A velha piada

Por Izaías Almada

A velha mídia brasileira, ou a sua parte mais suja se quiserem, comporta-se como o menino da velha piada da minha infância, aquela em que o pirralho entra no rio e a determinada altura começa gritar que está se afogando. Alguém corre para salvá-lo e ele se diverte dizendo que era só fingimento. Na quinta ou sexta vez em que repetiu a “brincadeirinha” ninguém se importou e, claro, dessa vez era a valer.

O caso da matéria publicada pela revista Veja sobre o ex-ministro José Dirceu, tem – na minha modesta opinião – o sabor do final da velha piada. Já ninguém mais acredita nesse tipo de jornalismo, pelo menos entre os que ainda conseguem – no meio de tanta e proposital confusão – pensar o país com olhos no futuro e não no passado.

Não tenho procuração do ex-ministro e nem do seu partido o PT, mas sou capaz de avaliar, não só nesse episódio, mas desde a constrangedora campanha do chamado “mensalão”, quando a mídia brasileira em nome de valores discutíveis de moralidade e ética, decidiu qua a corrupção no Brasil – se não teve início – chegou ao ápice com o governo Lula da Silva, sou capaz de avaliar o sentido da matéria. Não é preciso ser nenhum Sherlock para ver que o jornalismo de esgoto servirá sempre às causas mais conservadoras e (essas sim) imorais para a manutenção de privilégios corporativos que fazem a balança pender sempre para o lado dos mais favorecidos na escala social.

Algumas gangues políticas, regionais e nacionais, governam o Brasil há anos, sempre permeáveis aos mais lucrativos negócios feitos nos porões da nossa democracia represent ativa.

Em 2005, tive a coragem (ou para muitos a insensatez?) de tentar defender o governo Lula, seu ex-ministro e outros integrantes do governo da tentativa de linchamento político e fui duramente criticado por alguns companheiros de viagem, pois há uma tendência, paradoxalmente em alguns nichos de esquerda, em acreditar nas denùncias da mídia que dizem combater.

É sempre bom lembrar o tom da campanha presidencial do ano passado, onde figuras que já se alinharam com a esquerda no passado optaram por um discurso dos mais obscuros e tenebrosos dos últimos tempos entre nós. Discurso repercutido e incentivado pela mídia que insistiu e insiste em considerar o cidadão brasileiro um boçal, incapaz de distinguir e separar o joio do trigo.

O novo episódio jornalístico envolvendo José Dirceu e a Veja, com a revista a insistir em seu jornalismo paranóico, pode significar o início de um novo marco na historia da mídia brasileira: um novo marco re gulatório.

E é bom que pensemos no assunto com seriedade, antes que a democracia se afogue entre nós…

Fonte: Escrevinhador

Kassab tem a pior avaliação em quatro anos

Prefeito tem menor aprovação em 4 anos
EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO

A aprovação à gestão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), atingiu seu menor índice em quatro anos, mostra o Datafolha.

Segundo pesquisa realizada na última quinta-feira, 24% dos paulistanos avaliam a gestão Kassab como ótima ou boa (margem de erro de três pontos percentuais).

Desde março de 2007, quando Kassab obteve taxa de aprovação de 15%, o índice não era tão baixo.
O prefeito assumiu o governo em 2006 após José Serra (PSDB) renunciar para ser candidato a governador.

Pouco conhecido, Kassab teve índices ruins no início do mandato, mas chegou a 61% de ótimo e bom durante a campanha de 2008.

Desde aquela eleição, no entanto, sua avaliação registrou tendência de queda.

Nos últimos cinco meses, Kassab conseguiu reduzir a reprovação à sua gestão, mas não conseguiu conter a queda da aprovação. O resultado é que o percentual dos que o avaliam como regular atingiu o maior índice histórico.

Em março, na temporada de chuvas (e de enchentes), o Datafolha apurou que 43% apontavam o governo municipal como ruim ou péssimo, 27% diziam que era regular e 29% achavam ótimo ou bom.

Agora, com o prefeito envolvido na criação de seu novo partido (o PSD) e a área da saúde em crise com o fechamento de vagas em hospitais, a reprovação a Kassab caiu para 32% e o índice de regular subiu para 41%.

Saúde, inclusive, é apontada por 25% dos paulistanos como o setor em que Kassab vai pior. O melhor desempenho é na educação, mostra o Datafolha, para 10% dos moradores de São Paulo.

A aprovação a Kassab teve queda em todas as faixas etária e de renda, mas de forma mais acentuada entre os mais pobres, com renda familiar de até dois salários mínimos. Nesse estrato, o índice caiu oito pontos desde março e chegou a 19%.

Extraído do blog O Esquerdopata

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Carta às esquerdas

Por Boaventura de Sousa Santos

Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação de algumas ideias. A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.

Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?

As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.

Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias:

Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.

Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).

Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.

Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito.

Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar).

Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.

Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.

Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.

Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.

*Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).